No dia 3 de Dezembro, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, Celorico de Basto viveu momentos de reflexão na sessão “Conversas com sentido”. Uma ação informal entre ilustres convidados e plateia que procurou despertar para as diferentes formas de violência que as pessoas mais vulneráveis sentem no seu dia-a-dia.
Joaquim Mota e Silva, Presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, fez questão de salientar que a deficiência ainda é vista pelas entidades de direito como um assunto esquecido. “Temos um longo caminho a percorrer nesta temática, porque falar de pessoas com deficiência é falar de dificuldades, de problemáticas, de estereótipos, criados por uma sociedade demasiado passiva quando confrontada com a deficiência. Precisamos de mais práticas, de mais políticas inclusivas, as pessoas que trabalham esta matéria têm feito muito pouco. Infelizmente vivemos um problema estrutural e cultural no nosso país quando estão em causa as pessoas com limitações mas com um potencial enorme. O problema começa nas escolas que na sua maioria estão desprovidas de equipas de intervenção precoce, sem meios, e sem estimulação em tempo oportuno. E este deve ser um trabalho do governo que deve priorizar as pessoas nas suas tomadas de decisão. Neste contexto gastar 30 mil euros para uma equipa de intervenção precoce é investir nas pessoas, nos seres humanos para que possam ser felizes. Portugal precisa de um abanão nesta matéria, é preciso que as famílias se unam para que as politicas sejam mais orientadas para as pessoas com mais limitações e as ajudem na sua inserção na vida ativa, criando uma sociedade inclusiva. Na autarquia estamos a fazer o máximo dentro das nossas competências. Temos uma IPSS na área da deficiência mas sei que precisamos de fazer e vamos fazer muito mais neste sentido” disse o autarca.
No mesmo sentido, o Provedor Intermunicipal para o Cidadão com Deficiência da CIM-TS e Vice-presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, Fernando Peixoto, disse que ainda há muito a fazer nesta matéria. “Infelizmente as pessoas com deficiência, independentemente da dimensão das duas dificuldades, físicas ou psicológicas, ainda têm que lidar com as dificuldades externas de uma sociedade altamente deficiente nesta matéria. Nós, no Município, ainda temos muito a fazer sobretudo na eliminação das barreiras arquitetónicas e estamos e como sempre estivemos muito atentos a estas matérias. Até ao final do nosso mandato iremos resolver o maior número possível de barreiras desta ordem e articularemos todos os esforços para mitigar tantas outras barreiras que não fazem mais que excluir.
Quem também luta diariamente contra estas barreiras, contra estas formas de violência é Rui Machado, ativista dos direitos das pessoas com deficiência, que presente na ação fez questão de entrar no cerne da questão “é preciso, urgente e necessário promover a diversidade humana. A sociedade ainda não está preparada para acolher toda esta diversidade. É preciso que se entenda que a normalidade é um território inabitado”. O também cofundador do movimento “sim, nós fodemos” disse que é “preciso dar voz a um conjunto de pessoas que continuam invisíveis e esta ação, promovida hoje aqui, é uma excelente forma de o fazer. Existem imensuráveis formas de violência, de discriminação, de exclusão visível imediatamente na definição de pessoa, no modelo biomédico (pessoas, deficientes, inválidos) e isso, está entranhado na sociedade. A minha luta centra-se já em dimensões superiores à necessidade de uma cadeira de rodas, de uma rampa, de mobilidade, centra-se na pessoa e nas suas necessidades pessoais, na sua vontade, nos objetivos concretos, no seu querer, porque a vida tem várias dimensões e não estar possibilitado a atingir essas dimensões é sofrer violência”.
Um discurso intenso que mostrou a verdadeira dimensão do ser humano, que luta pela equidade. Nesse sentido a Conselheira Municipal para a Igualdade disse que “é urgente sensibilizar e informar a comunidade para as questões da igualdade. Durante esta semana temos vindo a bordar diferentes temáticas que põem em causa a igualdade, desde a violência no namoro, a violência doméstica, a violência nos idosos e hoje a violência sobre a pessoa com deficiência. É importante que se reflita nestas questões. Quando o ponto de partida não é igual para todos, não há igualdade, por outro lado, devemos cada vez mais falar de diversidade porque todos somos diferentes. É preciso criar condições para que todos, independentemente das suas limitações, possam ser felizes nas suas opções, tão simples e quotidianas como ter amigos, participar em atividades de lazer, ter um trabalho, ter um namorado ou namorada, casar e ter filhos, ter acesso ao seu dinheiro e comprar o que precisa, quer ou gosta, possam decidir e ter entidades e organismos que promovam este processo, ainda tão limitado, porque se trata de pessoas”.
A sessão foi rica na exposição de opiniões sobre várias formas de violência. A representante da APAV de Braga, Marta Mendes, salientou, durante as suas intervenções, as limitações que a própria instituição sente quando está a trabalhar com “vitimas especialmente vulneráveis. A falta de estudos, de sumo é um entrave que nos condiciona na forma de intervenção, apesar de termos técnicos altamente credenciados para atuar nos diferentes contextos. A APAV apoia todas as vítimas mas é importante que se comece a fazer estudos concretos quando estamos a lidar com pessoas com deficiências, porque as pessoas existem, porque há vítimas de violência doméstica que podem ser portadoras de deficiência, porque a forma de intervenção não pode ser igual e deve, efetivamente, ser mais qualificada. Não haver esse sumo é esconder um grupo de pessoas que tem os mesmos direitos que as outras mas que precisa de apoios diferenciados”.
A sessão “Conversas com sentido” contou ainda com a intervenção de uma cuidadora informal que assistiu atentamente ao que foi proferido pelos convidados e deu o seu testemunho mostrando-se muito descontente com a forma discriminatória como a sociedade trata a pessoa com a deficiência e por consequência a sua família.
Importa recordar que a sessão contou com a atuação do Grupo de Teatro Celoricense que apresentou uma performance inerente às dificuldades sentidas pela pessoa com deficiência e com a intervenção musical de Vasco Pinto com a música “O tempo não para” da Mariza.
A finalizar uma ação promovida pelo Município de Celorico de Basto em parceria com o CLDS 3G, o coordenador do CLDS 3G, Manuel Maria Afonso, mostrou-se grato por tão importante momento, que colocou em cima da mesa pontos de extrema importância e que carecem de reflexão de toda a sociedade. “Estou imensamente grato, foram 5 anos de um trabalho de equipa feito com todo o empenho e parceria e que culmina com uma ação tão gratificante, tão necessária. E nesse contexto tenho que referir três máximas que deveriam fazer parte do quotidiano de cada um, que nos tornariam, certamente, mais Humanos. A drive QI que representa o que te faz sair da cama, a Emotions QI que te permite colocar no lugar do outro e a Courage QI que te leva a ir, sempre, apesar do medo e do risco. Se nos basearmos nestas três máximas seremos sem dúvida seres humanos que vivem plenamente o sentido da igualdade.
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