Sem sombra de dúvidas, a “Capital Europeia da Cultura 2012” (CEC’12) funcionou em Guimarães como uma enorme alavanca nevrálgica que recriou a própria cidade, tanto do ponto de vista urbanístico como criativo. Não será por acaso que o “New York Times” nomeou a cidade como um dos locais mais apetecíveis a visitar da Península Ibérica.
Guimarães era uma cidade onde tradição e história se cruzavam. No pós “CEC’12” ganhou uma elevada dinâmica cultural, na sequência de mais de 600 eventos que deixaram marca e semearam um novo ímpeto que se vê nas lojas, wine bars, restaurantes, pastelarias e espaços culturais novos. A aposta nas indústrias criativas funcionou positivamente como um motor da economia local e da intervenção individual. Uma espécie de espírito do desassossego. A cidade ganhou nas intervenções urbanísticas que a refrescaram, passando pela construção de novos museus e teatros até à reconversão de espaços industriais em centros culturais, bem como a recuperação de edifícios históricos. Mas foi sobretudo na redescoberta do próprio ego, no reflorescimento criativo, que se deu a grande vitória.
Os novos espaços reinventaram um espírito gregário. Aliás, um dos slogans da “CEC’12” foi mesmo esse: “Tu fazes parte”. E Guimarães revelou ser mestre na mescla das novas tendências contemporâneas com o seu passado, reinventando-o sem o descurar.
E se falamos de arte e criatividade falamos obviamente de gastronomia. No guia de restaurantes e bares que a WINE – A Essência do Vinho editou no final do verão foi clara a quantidade de novos espaços que surgiram ou renasceram dentro desta nova vaga. Percorremos as carismáticas ruas estreitas do centro histórico e foram muitas as descobertas que traduziram essa nova energia, esse sangue fresco que exibe o fôlego criativo de dezenas de novos restaurantes, cafés, lojas gourmet, hotéis, petisqueiras ou bares acolhedores. A oferta da cidade em termos restaurativos é ampla, permitindo provar refeições ligeiras a menus de degustação completos ou fazer uma pausa numa pastelaria ou café renovado que oferecem, para além das tradicionais tortas de Guimarães, as queimadinhas ou o toucinho do céu. Também novas lojas curiosas trouxeram outra movida à cidade. Se a maioria dos restaurantes servia até recentemente cozinha tradicional minhota, agora há introduções criativas que vale a pena conhecer de perto em espaços mais contemporâneos e sofisticados que, apesar de se inspirarem na região, vieram adicionar uma linguagem mais atual, a descobrir.
Os novos chefes estão focados no produto e na especificidade da cultura gastronómica de Entre Douro e Minho, que é riquíssima, mas também na criatividade. Das influências minhotas, dos rojões ao sarrabulho, do pica no chão ao bacalhau assado, da canja olhuda à sopa de nabos e sopa do lavrador ao bucho, a essência da matéria-prima e a cultura popular estão lá. Mas é interessante conferir o novo look e reformulação de alguns olhares progressivos que reformulam a vertente entre a cozinha mais “aristocrática” e a mais “rural”, a mais popular e a reinventada.
O Centro Cultural Vila Flor, a Plataforma das Artes e Criatividade e a Casa da Memória, o CAAA – uma antiga fábrica têxtil é agora o Centro dos Assuntos para a Arte e Arquitetura promovendo as artes visuais, design, cinema, arquitetura, entre outros, deixaram uma marca que perdura na cidade. Recordamos ainda o “Guimarães Chef”, um projeto de cariz interativo que envolveu consumidores e empresários do ramo da restauração, sendo a primeira aplicação móvel dedicada à gastronomia e doçaria regional do concelho.
Guimarães, a mais antiga cidade portuguesa, tem agora um novo elã. Se por este emaranhado de ruas sentimos o pulsar da história, palpamos agora também a vertigem do futuro e uma dinâmica própria que não passa apenas pelos projetos culturais mas por uma nova atitude, mundividente. Enquanto deambulamos pelo empedrado de ruelas e praças onde cada casa evoca séculos passados, das casas-torre às medievais, há sempre um sinal do novo espírito que nos faz parar e entrar, respirando um cheirinho de futuro mesclado com a história da cidade. Um novo cruzamento de tempos e diálogos que urge redescobrir. Por isso, a eleição de Guimarães como “Destino Gastronómico do Ano 2012”.
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