A vida e obra de António Gomes Ferreira, Abade de Terroso e Benemérito da Arqueologia, foram o tema da conversa de ontem à tarde, dirigida por Maria Bernadette Ferreira de Faria, no Arquivo Municipal.
A Professora de História explanou de forma pormenorizada a vivência desta personalidade contextualizando-o no espaço e tempo onde viveu e fazendo o enquadramento da política local. Recorreu ainda a jornais e outros documentos da época que ilustravam as várias facetas de António Gomes Ferreira.
Referindo alguns dados biográficos do P.e António Gomes Ferreira, informou que nasceu no lugar de Lousadelo, freguesia de Balasar, em 13 de Janeiro de 1865, filho de António Gomes Ferreira e de Ana Ferreira, lavradores dessa freguesia. Além deste filho, o casal teve mais quatro sendo que um deles, Manuel Gomes Ferreira é avô paterno de Bernadette Faria. Apesar de só ter aprendido a ler com catorze anos de idade, surge a vocação sacerdotal e é encaminhado para o Seminário Conciliar de Braga, onde foi um estudante distinto, tendo sido ordenado presbítero, em 25 de Fevereiro de 1888. Após ter estado em Balasar, Barcelos e Famalicão, em 1902 foi nomeado para a Igreja Paroquial de Terroso onde esteve durante 38 anos. Entre 1913 e 1940 foi ainda Arcipreste do Distrito Eclesiástico de Vila do Conde tendo a seu cargo 25 paróquias dos concelhos da Póvoa de Varzim de Vila do Conde, sendo que durante 27 anos acumulou esta função à de Abade. No dia 11 de Março de 1938, os paroquianos fizeram-lhe uma grande festa comemorativa das suas Bodas de Ouro Sacerdotais e de Prata Arciprestais e recebeu as seguintes dádivas: Livro de Honra; Livro de poesias e músicas; Ramalhete Espiritual e Cálice de Prata. Para além disso, as Câmaras Municipais da Póvoa de Varzim e Vila do Conde prestaram-lhe homenagem e louvor. Passados aproximadamente dois anos desta homenagem, a 16 de Abril de 1940, António Gomes Ferreira faleceu, com 75 anos, no cumprimento do seu dever, no Seminário Auxiliar de Braga, onde se encontrava em retiro espiritual.
Bernadette Faria referiu-se também ao contributo do seu tio para a arqueologia em Portugal revelando que o Abade de Terroso, juntamente com David Alves, Santos Graça, Artur Cruz e José Calheiros, foi Benemérito da Arqueologia e colaborou nas campanhas lançadas por Rocha Peixoto para a exploração da Cividade de Terroso nos anos 1906 e 1907. Rocha Peixoto destacou num artigo publicado n’A Portugália “o interesse, esforço, hospitalidade, lúcidos conselhos e sagacidade” do Abade de Terroso durante os trabalhos na Cividade. A morte de Rocha Peixoto em 1909 levou ao abandono da Cividade, que é vítima de depravações. Em 1980, a Câmara Municipal convida Armando Coelho da Silva a começar os trabalhos arqueológicos na Cividade juntamente com José Flores.
A convidada deu também o testemunho pessoal sobre o seu tio como “um modelo de virtudes: inteligência, cultura, carácter, firmeza, perseverança, mas sobretudo um coração de ouro” e “uma pessoa bastante viajada para o seu tempo, além de uma viagem a Lourdes, foi a Pádua, visitar o túmulo de Santo António, e a Roma assistir à canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus.
A freguesia de Balasar, terra natal do Abade, eternizou esta figura dando o seu nome a uma rua, Rua Padre António Gomes Ferreira.
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