Sociedade

“Não há Caminho sem música” – Rates na rota de Santiago abre Ciclo de Música Sacra – P. Varzim

“A Música nos Caminhos de Santiago” abriu o V Ciclo de Música Sacra da Igreja Românica de S. Pedro de Rates, evento musical que decorre ao longo de todo o mês de Maio.
José Maria Pedrosa, da Universidade de Coimbra, o palestrante convidado, contou que Rates é uma estação muito importante no Caminho de Santiago, ponto de passagem obrigatório para os peregrinos provenientes do Sudeste de Portugal. Por Rates passaram, ao longo dos séculos, célebres peregrinos, como Cosme de Médicis “nos finais de 1669”. E na conferência de ontem estavam também presentes caminhantes que aproveitaram este evento para fazer uma pausa na sua peregrinação.
Mas os laços entre Rates e Santiago de Compostela vão mais além. Entre as duas “lendas” existem semelhanças inegáveis. Em ambos os casos, de S. Pedro de Rates e de Santiago de Compostela, a “lenda” inclui um eremita, Félix, que no monte com o mesmo nome avista uns “sinais maravilhosos” que o levam à descoberta do corpo do Santo. No entanto, o culto a São Tiago começa no século XI. “De Rates sabe-se um pouco mais, nomeadamente que o culto começou no século XVI”, explicou José Maria Pedrosa, “sabia-se da existência do mosteiro, de uma povoação e de um corpo que existia na Igreja. Tal teve o reconhecimento do Arcebispo D. Baltazar Limpo, no século XVI, que mandou transladar o corpo da Igreja de Rates para a Sé de Braga”. Começa o culto oficial a S. Pedro de Rates.
Sobre a Música, considerou-a “a melhor companhia do ser humano”. Na romaria a Santiago acompanha o caminho, as estações, a chegada. Música tão variada quanto a proveniência dos peregrinos, levando a uma polifonia e a centenas, senão milhares, de músicas diferentes. E nesta mescla musical encontra-se, por exemplo, a música popular, de sabor trovadoresco ou as cantigas de romaria. Surgem também as Cantigas de Santa Maria “que tinham um sentido mais elevado” e que contrabalançam o trovadoresco na medida em que este cantava “as mulheres mais belas” e as Cantigas de Santa Maria “a mulher das mulheres”. Estas últimas foram compiladas por Afonso X, no século XIII, “como suma dos milagres e louvores da Virgem Maria”.
A música acompanhava os peregrinos e podia haver solistas, coro e até instrumentos. E à medida que o poder religioso foi reconhecendo Santiago de Compostela, foi também contribuindo para o culto e, com isso, para o cancioneiro. É disso exemplo o Códice Calixtino, do século XII, cuja autoria foi atribuída ao Papa Calisto II e que reúne um conjunto de textos que visava promover a sé apostólica de Santiago de Compostela. Divido em cinco livros (Anthologia litúrgica, De miraculi sancti Jacobi, Liber de translatione corporis sancti Jacobi ad Compostellam, Historia Karoli Magni et Rothalandi, Iter pro peregrinis ad Compostellam) é, nas palavras de José Maria Pedrosa, “um importante manuscrito, guardado na Catedral de Santiago de Compostela. Tem sido muito estudado por musicólogos”. Neste Códice, a música aparece no primeiro e no último dos seus livros, “com música em gregoriano e também em polifonia, ou seja, com duas ou mais vozes”. Um exemplo de música existente neste Códice é o célebre “Dum Pater Famílias”, por muitos adoptado como hino e cuja letra em Latim, está também adaptada ao espanhol. 
Em resumo, “música sempre”, considerou, “tinha que acompanhar o dia-a-dia dos peregrinos” e fazia mesmo parte da atmosfera de Santiago de Compostela. “Não há Caminho sem música, não há Santiago sem música e sem música de qualidade. Na verdade, sine musica nulla vita, isto é, sem música não há vida”.
O programa do V Ciclo de Música Sacra da Igreja Românica de S. Pedro de Rates pode ser consultado no portal municipal. Esta foi a primeira de duas conferências, já que no dia 11 José Paulo Antunes, da Universidade Católica, falará sobre “Música Mariana na Liturgia de Hoje: desafios e possibilidades”.

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