Cultura, Trofa

Casa da Cultura da Trofa recebe Exposição de Pintura: Recortes do Tempo de António Ferra de 3 a 20 de Junho

Recortes do Tempo é uma exposição de pintura baseada em recortes de 1970, que terá lugar na Casa da Cultura da Trofa entre os dias 3 e 20 de Junho. Esta manifestação de arte surge de um trajecto pessoal de António Ferra feito em interacção com os outros. Os efeitos de atracção e repulsa entre a tinta de água e a tinta de esmalte foram jogados pelo artista numa placa de cartão de cinquenta por setenta centímetros com o objectivo de criar ambientes intimistas ocupando menos espaço, abrigando, ao mesmo tempo, visões e memórias de montanhas ou sugestões marítimas.
Aos recortes consolidados em 2004 foram introduzidos, pelo artista, alguns raminhos ou pedras encontrados, articulando a arte com a atitude de recolha e aproveitamento de resíduos, e, a partir de uma expressão gestual feita naquela placa de cartão, foi conjugada uma figuração mais racionalizada e menos impetuosa.
Durante a exposição, poderemos verificar que o objecto criativo não se prende apenas ao momento de execução (1970). Há toda uma transformação feita através do tempo, à custa da transformação e mudança dos olhares. Esta é uma abordagem diferente daquela que se centra na estabilidade do objecto, assim, talvez mais tarde estes Recortes do Tempo tenham ainda outra expressão.
Note-se que há um percurso que vai desde a densidade dos materiais que preenchem cada fragmento, até uma raridade progressiva contida nesses recortes – quadrados de dez centímetros. Isso resulta de escassez da matéria-prima utilizada – irrepetível – que teve de ser dividida pelos fragmentos.
Assim, torna-se fulcral evidenciar a partilha de preocupações de ordem ecológica tida em conta por António Ferra, destacando a mensagem de que é possível a reciclagem de objectos de outro tempo, que acabaram por ser excluídos.
A Casa da Cultura da Trofa vem então apoiar esta atitude ecológica que não entra em conflito com a perenidade da arte. Pelo contrário, enquanto diferença, complementa-a e dá-lhe significado.
 
 
António Ferra
 
António Ferra cresceu desenvolvendo a expressão visual, plástica e moldável, através da pintura e do desenho, durante todo o trajecto da sua vida. Porém, hoje sente dificuldade em usar o termo “pintura” na medida em que se torna cada vez maior a variedade de objectos e técnicas por ele utilizadas, fundamentalmente a colagem. A escrita narrativa e poética fazem também parte de todo o seu percurso, o que levou, possivelmente, ao artista anular a sistematização da sua participação em exposições colectivas ou individuais.
Analisando todo a sua trajectória , este criador começou por expor aquilo que fazia no espaço escolar que o rodeava, sendo ainda adolescente, passando por manifestações académicas até à faculdade de letras de Lisboa, onde esteve colectiva e individualmente, passando ainda pela galeria Nova Foco agregada a uma escola do Cacém, onde foi professor. Assim, nasceu uma ligação com a Câmara de Sintra que lhe permitiu participar em várias exposições colectivas e uma individual. E é em 2004, quando participa numa exposição individual, que marca uma viragem nos seus critérios de produção.
Apesar desta manifestação de arte adoptada, não poderemos considerar este artista autodidacta, visto que este afirma nunca ter aprendido sozinho. António Ferra aprendeu as técnicas através de lições particulares e de contacto com os companheiros e retendo tudo isto, foi fazendo e vendo, vendo e fazendo de novo, experimentando e readaptando atitudes e técnicas que via utilizadas por outros.
Em suma, a aprendizagem da expressão plástica e invenção, situou-se ao mesmo nível da expressão escrita: para encontrar o seu próprio caminho, vê o que os outros fazem, lê o que os outros escrevem.
“Sinto-me mais livre a desenhar do que a escrever, para mim as imagens são anteriores às palavras” afirma o artista.

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1 comentário

  1. Espero ter o prazer de apreciar nesta “vernissage” o António Ferra de hoje. Conheço o anterior. O artista e o escritor. Mais este.
    Enquanto que acho a sua pintura subjectiva, marcada pela impressão da sua vivência pintalgada de rebeldia, de revolta, de procura, de tenacidade, de saudade, de densidade mas sobretudo de honestidade consigo mesmo, a sua prosa, sobretudo a descritiva, acho-a vivaz, colorida, despretensiosa, saudável.
    Finalmente, na sua poesia encontro a junção de ambas as outras. Subjectividade, cor, profundidade, actualidade.
    Estou certo que mais uma vez veremos a continuação de uma evolução segura e despretensiosa evolução a que António Ferra nos habituou.
    RLS

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