Póvoa de Varzim, Sociedade

Os Expostos da Póvoa de Varzim foi tema de conferência no Arquivo Municipal

O Arquivo Municipal acolheu ontem à noite a apresentação de um trabalho inédito realizado a partir de fontes primitivas do Arquivo subordinado ao tema “Os Expostos da Póvoa de Varzim (1792 – 1836)”.
Joana Leandro, autora do estudo, explorou exaustivamente o desenvolvimento deste fenómeno na nossa cidade, sendo que a principal fonte de informação centrou-se em dois Livros de Entrada de Expostos na Roda da Póvoa de Varzim.
A investigadora revelou que a data de criação da Roda na Póvoa é 15 de Janeiro de 1784 e que em 1839 funcionava na Rua Nova (actual Rua do Visconde de Azevedo) e depois passou a estar instalada na casa da esquina da Rua da Praça (actual Rua da Igreja) com a Rua dos Fiéis de Deus. Em relação ao período em estudo (1792-1836), Joana Leandro registou 1573 crianças entradas na Roda sendo que nos primeiros três anos não chega a ultrapassar as 10 crianças e em 1833 atingiu o auge com 455 expostos num só ano.
No que se refere à variação sazonal, a Póvoa difere de todos os outros estudos apresentando números mais elevados nos meses de Fevereiro, Março e Maio e os valores mais baixos em Outubro, Novembro e Dezembro. A investigadora justifica esta situação com a dinâmica económica da Póvoa de Varzim por se tratar de uma vila piscatória e esta sazonalidade se relacionar com a altura em que os homens partem para o mar e os rendimentos são maiores.
Em relação ao vestuário, este é descrito em quase todos os registos, ou seja, as crianças surgem vestidas mas com indumentária precária e trazem muito frequentemente objectos de carácter religioso (livros, cruzes e escapulários) que demarcam a religiosidade da comunidade poveira.
Outra fonte importante para o estudo realizado por Joana Leandro foram os escritos ou bilhetes que os expostos traziam quando eram depositados na Roda. A informação que surge mais vezes nestes documentos é o baptismo, o que demonstrava, uma vez mais, a forte religiosidade da população e a sua preocupação com o destino das almas. Os dados mais escassos e raros eram relativos ao dia do nascimento e à proveniência dos enjeitados. Também é possível encontrar algumas características físicas das crianças e identificar padrinhos e madrinhas dos expostos. Quanto aos motivos do abandono, a pobreza é apontada como principal factor: “perduarão que são misérias” e “põe-se na roda por grande necessidade” denunciam uma difícil situação económica das famílias que entregam os filhos na Roda. Em 1573 registos, só um refere amor nos apelos à rodeira, à administração ou à ama, sendo que os principais pedidos são de zelo, cuidado e limpeza.
Joana Leandro analisou ainda os destinos dos expostos da Póvoa de Varzim e verificou que alguns foram entregues a outra Roda, nomeadamente, Porto, Barcelos e Vila do Conde, 445 amas ficaram com crianças, somente quatro retornaram à família mas nunca a mãe teve iniciativa de os ir buscar, houve três casos que ficaram com os padrinhos e alguns faleceram.

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