Cultura, Póvoa de Varzim

Correntes d’Escritas: De Barcelona aos Estados Unidos, da Idade Média ao mundo de hoje – viagens em livro – P. Varzim

Na noite passada, no Novotel Vermar, a sala de lançamento de livros encheu-se novamente para receber oito novas obras, repartidas entre géneros como a poesia, o ensaio e o romance.
Paula Izquierdo, autora madrilena, trouxe Sexodependentes, livro editado no Verão de 2008 pela Cavalo de Ferro. É um livro sobre várias mulheres que marcaram a História e que têm em comum a forma como viveram a sua sexualidade. “É um misto de tudo”, contou Paula Izquierdo, psicóloga de profissão, aludindo ao facto de, no livro, romancista e psicóloga se confundirem. “Está lá o meu lado ensaísta, sobre 20 mulheres da História, sobre as suas vidas íntimas”, avançou, “sobre o tipo de relações ocultas que marcaram as suas vidas” e que “viveram a sua sexualidade até às últimas consequências.”
De Engenheiro Mecânico de Automóveis a um dos bem mais sucedidos romancistas. Assim é a trajectória de Antonio Garrido, escritor espanhol que ontem apresentou A Escriba, um livro que se desenvolve na época de Carlos Magno, em torno de Theresa. O autor explicou que a ideia para este livro surgiu na Alemanha, onde teve contacto com um documento de extrema importância para a Cristandade, “o segundo mais importante, depois da Bíblia”, tendo, inclusivamente, sido mantido em segredo pela própria Igreja. É esse mesmo documento que despoleta toda a trama em A Escriba, quando Carlos Magno, num mundo cujas influências eram movidas com base não na guerra mas na traição, pede a Gorgias, pai de Theresa, para o traduzir. A intriga marca esta obra que funciona também como uma máquina do tempo que nos transporta até à Idade Média. “É um romance muito visual”, caracterizou Alvaro Garrido, comparando-o ao esqueleto de um crânio de um animal que colocou em cima da mesa. “Este esqueleto representa a opressão a que de vêem submetidos os protagonistas.”

Também editado pela Porto Editora, A Arte de Matar Dragões, é um romance de Ignacio del Valle. Um misterioso quadro de um pintor italiano está na base deste livro, onde mais do que a história, que se passa na Espanha do pós-guerra, Ignacio del Valle quis também incluir dois aspectos que considera fundamentais: o amor e o mito. O amor porque mantém “a salvo de todas as tempestade físicas e morais”; o mito porque representa “toda a gente que enfrenta o seu destino.”
Pela editora Quasi, chegou à Póvoa O Mundo desde o Fim e Cinemateca. O primeiro, de Antonio Cícero é um livro “que se compõe de seis ensaios sobre diferentes assuntos: o conceito da modernidade, a arte, particularmente a arte vanguardista, a imagem do Brasil e até mesmo sobre o trânsito”, avançou o autor. “São escritas sob uma perspectiva filosófica” e não poética, explicou, “pois quando está o filósofo o poeta nem chega perto.” Uma situação algo complicada, nas palavras do poeta brasileiro, “pois é mais importante a poesia que a filosofia. A poesia dá-se como um objecto de palavras. Não se pode conceber um poeta sem poemas. Mas é concebível um filósofo que não tem escrito nada. A poesia consiste num objecto muito especial, que deve valer por si. A Filosofia, na minha opinião, serve para muitas coisas.” Assim, em O Mundo desde o Fim, “a filosofia cumpriu a função de lutar contra as tendências, tornar utilitária a própria poesia, a própria vida.”
Já Cinemateca é um livro de poemas de Eucanãa Ferraz. “Cinemateca tem algo de museu, lá guardam-se filmes. Achei que havia algo que se relacionava com a poesia, pois esta guarda coisas antigas como um museu, mas é também moderna”, explicou o poeta brasileiro. Os poemas estão divididos em três partes: primeira luz, segunda luz e terceira luz. “É como se tivéssemos um realizador a definir a intensidade da luz e então o livro começa muito claro, com pensamentos solares, muito felizes. Na segunda luz os poemas já se passam no crepúsculo, é desamor. E depois a terceira luz, na noite, sobre morte e experiências traumáticas.”
De Cinemateca viajou-se até Barcelona pela mão de Sergi Dória. Guia de Barcelona de Carlos Ruiz Záfon, editado pela Planeta, é um livro que funciona como mapa pela Barcelona dos anos 20 ou 40 que Záfon descreve nos seus livros Marina, A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo. Trata-se de seguir as pisadas das personagens do livro, de descobrir uma cidade que se percorre e uma cidade que se lê. “Entra-se numa terceira dimensão”, explicou o autor, “estamos sempre entre duas águas, que é a sensação que se tem ao reconhecer na cidade a sua faceta mais mágica.”
Também pela Planeta, O Mundo, de Juan José Millás. Um romance nada convencional, onde o autor tenta mostrar o que está oculto, contando a sua própria história, desde a infância. De uma realidade fez um universo literário e a partir da sua vida criou uma autobiografia ficcionada. E para escapar à angústia de apresentar o próprio livro, Juan José Millás distraiu, com sucesso, a plateia com uma anedota, esgotando, assim, o tempo que lhe estava destinado.

Por último, foi apresentado Chiquita, da Quidnovi, da autoria do cubano Antonio Orlando Rodriguez. Este é um romance que conta a história verídica de uma cubana que media apenas 60 centímetros. Emigrou para os Estados Unidos, onde fez sucesso e fortuna no circo e em espectáculos de excentricidades. “Inspirei-me numa personagem real, que me fascinou pelo seu físico, pelo seu temperamento e pelo erotismo que emanava”, contou o autor, avançando ainda que a história se passa entre a Guerra da Independêcia de Cuba até à II Guerra Mundial. “Esta mulher, Espiridiona, foi muito popular, mas não deixou rasto. Por isso, este livro não é uma biografia, é antes uma biografia imaginária de uma personagem real. É um livro cuja personagem é passível de ser convertida em metáfora pelo leitor”, concluiu Antonio Orlando Rodriguez.
Como vem sendo habitual, seguiu-se ao lançamento de livros uma sessão de poesia, muito participada quer no que respeita ao público, quer no que respeita a declamadores. Assim, participaram Aurelino Costa, Xosé Maria Alvarez Cáccamo, Conceição Lima, Uberto Stabile, Corsino Fortes, Ángela Ramos Díaz, Xavier Queipo, Mara Romero, Ana Luísa Amaral, Rui Machado e Maria Rosário Pedreira. A acompanhar na viola esteve José Peixoto, que deu depois lugar a Américo Appiano, que deu um breve concerto de voz e guitarra.

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