Este é o princípio do fim: “Acho que em breve vou morrer. Podia morrer hoje mesmo se fizesse um bocadinho de força.”
No fim dos anos 60, Samuel Beckett pegou em alguns dos seus textos – teatro, prosa, poesia – escolheu excertos, fez-lhes pequenos ajustes. Transformou-os em algo novo e chamou-lhe Beginning to End. O actor Jack MacGowran estreou este monólogo em 1970 e interpretou-o até à sua morte, três anos mais tarde. Este ano, João Lagarto andou à procura de um dos raros exemplares desse texto, traduziu-o, dirige e interpreta-o sozinho. Chamou-lhe Começar a Acabar.
Um palco escuro, duas lâmpadas enormes e um homem só, de roupas rasgadas e cabelo desalinhado que partilha com o público as suas inquietações. “É interessante ver como, descontextualizados, os fragmentos mudam de sentido”, diz o actor. Ali encontramos palavras de Lucky, de Molloy, de Krapp, de Malone e de outras personagens de Beckett. “São textos de origens diferentes mas, apesar disso, com uma grande unidade: todos eles falam do que é a morte e da iminência do fim.”
Apesar dos sinais exteriores de que estamos perante um mendigo – “um dos habituais mendigos de Beckett, que não são só mendigos sociais, são mendigos da alma” – Lagarto prefere não falar numa “personagem”.
“Não me sinto a actuar”, diz. “Sinto-me mais como um intérprete musical. Os sentidos estão nos ritmos dos vários textos e eu quase só tenho que seguir esses ritmos.”
No entanto, não nega o tom burlesco, clownesco, que imprimiu à sua interpretação. Começar a Acabar está no palco do Cine-Teatro Constantino Nery, até Domingo.
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