Cultura, Póvoa de Varzim

Partir ao nosso encontro e ver Debaixo do Tapete – o desafio da nova obra de Carlos Mateus – P. Varzim

No passado sábado, o Auditório Municipal foi palco para a apresentação do livro Debaixo do Tapete, de Carlos Mateus, a que se seguiu um recital para piano por Raul Peixoto Costa.
Aurelino Costa apresentou a nova obra “nesta casa que é uma casa de Cultura que procura ser de substância, não de forma. Estamos simultaneamente numa Escola de Música onde o jovem pianista que vamos ouvir se alicerçou como homem.”
Abrindo a porta para conhecer a personagem central do livro, Marco, Aurelino Costa questionou-se sobre se “pode um homem nascido em Pitões das Júnias, em inícios da década de 20, fugir ao destino de guardador de rebanhos?” A resposta até poderia ser facilmente dedutível, mas o carácter de Marco foi formado com base numa série de factores que incluíram a passagem por um orfanato, a tropa de elite e ainda a Guerra Colonial, sendo assim “impedido de alimentar gado e sonhos.” O triângulo dinheiro – corrupção – violência está bem presente neste livro, sendo o Vale do Ave o palco de múltiplos crimes que Marco, enquanto detective privado, se propõem a deslindar. No entanto, Debaixo do Tapete encerra em si uma virtude, identificada por Aurelino Costa, sendo ela “o facto de escancarar algumas das montras que enfeitiçam incautos”.
Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, marcou também presença no lançamento do livro, oferecendo a sua interpretação. “Estamos a falar de um livro que utiliza muito a gíria jurídica, algo que tem a ver com a profissão do autor. E fala de um espaço ficcional que pode ser também a Póvoa de Varzim. Para mim é mesmo, mas o autor não diz”, gracejou. “É o espaço do casino, do Grande Hotel, de toda a ambiência que circundava as noites do Casino e que caracterizaram os anos 70.” Na obra, o Vereador encontrou também um espaço de crítica ao Portugal de hoje já que o autor “aproveita também para fazer a análise de algumas situações, como o estado da Justiça, que se encontra sempre adiada, e não é preciso ser jurista para se perceber isto. É a Justiça adiada que vivemos neste país.” Outra crítica “incisiva e que vem a tempo” encontrada por Luís Diamantino é dirigida aos orfanatos, supostamente “locais onde as crianças deviam ser educadas e apoiadas mas que são tudo menos isso.”

“Fiquei a saber mais do que aquilo que escrevi, são interpretações. Eu limitei-me a fazer um cozinhado e agora cada um com a sua vivência fará a sua interpretação”, explicou o autor, Carlos Mateus, advogado de profissão. “Todos nós temos algo escondido debaixo do tapete. Todos escondemos o passado, mas mais tarde temos que lá mexer. São monstros prestes a devorar-nos que nos provocam doenças e pavores.” E usando algumas analogias, como o esconder do lixo debaixo do tapete, as chaves de casa e até o usar do tapete para dissimular alçapões, Carlos Mateus foi juntando ingredientes ao cozinhado do livro: o branqueamento, a corrupção, o esconder de segredos e até das chaves para a resolução dos nossos problemas e que não usamos. Por isso, Debaixo do Tapete não é apenas o contar de uma história. Para além das críticas identificadas por Luís Diamantino, Carlos Mateus fez ver que “todos temos o nosso tapete, onde adiamos, fingimos um bocado. Para fazer a limpeza há que fazer um esforço, calar o ego, saber pedir perdão e ouvir a consciência.” E até na imoralidade e parte negativa de Marco, o personagem central, o leitor se pode rever. “Leiam este livro e partam para o encontro”, concluiu Carlos Mateus.

A apresentação, que contou com um Auditório Municipal repleto de amigos e companheiros de profissão do autor, terminou com um recital para piano, uma junção de “duas artes muito importantes para a nossa Cultura – a literatura e a música, na sua maior pureza”, como fez ver Luís Diamantino.
Raul Peixoto Costa, um jovem pianista promissor e cujo talento já o levou a ganhar variadíssimos prémios e a participar em projectos a nível europeu, sentou-se defronte de um Fazioli, que Rui Vieira Nery já considerou “o Ferrari dos pianos”. Ao longo da sua actuação deliciou todos os presentes com a sua mestria no dedilhar do teclado, arrancando da plateia vários “Bravo” merecidos e voltando para o Encore que todos pediram. Pelos dedos de Raul Peixoto Costa, a plateia viajou pela “Rapsódia nº 1” de Johannes Brahms, pela obra “Sentimentale”, de Claude Bolling (aqui com a participação de Catarina Costa na flauta), pelo “Estudo Op. 10 nº 8” de Frédéric Chopin e pela “Sugestão Diabólica” de Sergei Prokofiev.

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