Cultura, Póvoa de Varzim

VIMUS – “seja prudente, ouça e veja com moderação” – P. Varzim

Ontem o vimus entrou no terceiro dia. O cansaço é evidente entre os organizadores, mas tem valido a pena, porque é evidente que o festival adquiriu vida e ritmos próprios, à medida que se afirma e capta a atenção do público, dos media e da indústria musical e cinematográfica. Para os realizadores portugueses, que se movimentam num ainda pequeno núcleo de criadores e de gente que se dedica à produção de videoclipes e videodocumentários, o vimus está a constituir-se como um ponto de encontro e de divulgação de uma área em crescimento e em transformação, tanto a nível nacional como internacional.
                A tarde de ontem marcou mais um momento alto no evento, com o Diana Bar de lotação praticamente esgotada logo às quatro horas. Estavam em exibição, na competição internacional, os videodocumentários “Sonic Youth – Sleeping Nights Awake”, registado inteiramente por sete estudantes, com entrevistas, cenas de bastidores e dez temas ao vivo dos Sonic Youth, e “Music Partisans”, de Miroslaw Dembinski, sobre a emergência de bandas rock de resistência, na Bielorrússia. E a encerrar, belíssimos momentos passados na companhia do realizador Rui de Brito, que partilhou com o público histórias em torno de alguns dos seus videoclipes. A retrospectiva do seu trabalho permite também perceber o panorama nacional nesta área, nos últimos anos e são eventos como este que ajudam a marcar a diferença dentro da programação do festival, aproximando o público dos criadores.
               A noite voltou a dividir-se por bares da cidade, onde passaram videoclipes, mais filmes da colecção “Freedom Now” e a retrospectiva de Edouard Sailer, um criador francês que no ano passado concorreu com três videoclipes na competição internacional do vimus. No Diana Bar, que tem sido o ninho deste festival, antes da projecção de mais três videodocumentários, esteve a decorrer mais uma competição nacional de videoclipes, com a exibição de Dead Combo, “Putos a Roubar Maçãs”, de Alexandre Azinheira; The Vicious Five “Coffee Helps”, de Paulo Segadães; Norton “Your Balcony”, de David Francisco e Maria João Carvalho; Terrakota “É Verdade”, de Paulo Prazeres, Rita Redshoes “Dream on Girl”, de José Manuel Abrantes; Nigga Poison, “Governo Gosta Di Paka/Nenhum Homi É Ka Perfeto”, de Paulo Prazeres; David Fonseca “Rocket Man”, do próprio David Fonseca; Dealema, “Sala 101”, de Miguel Januário; Jorge Cruz “Nada”, de Gonçalo Madaíl e Monstro Mau “Mostro O Meu Monstro Mau”, de Jerónimo Rocha, Joana Faria e Nico Guedes.
            A música africana e Angola voltaram a dominar, no que toca aos videodocumentários projectados no Diana – “B.Leza”, de Rui Lopes da Silva, e “Kuduro – fogo no Musseke”, de Jorge António. Os realizadores estiveram presentes para falar de mais dois excelentes documentos que espelham bem a forte ligação entre Portugal e os países africanos que marcam a sua História e a forma como as ligações culturais não se perderam e como a língua portuguesa ganha novas formas de expressão e criatividade numa nova geração de angolanos.
             O trabalho de Rui Lopes da Silva guarda imagens preciosas do B.Leza, um espaço único em Lisboa, misto de discoteca, galeria de arte, restaurante, palco de teatro, dança, música, ponto de encontro de músicos e de gente em busca de uma boa noite de diversão….. dez anos a marcar a vida cultural da capital e que infelizmente chegaram ao fim com o encerramento do B.leza, em 2007. Como explicou Rui Lopes da Silva, a ideia de fazer o documentário surgiu precisamente com a notícia do encerramento daquele espaço. Nos seis meses que mediaram o surgimento da notícia e o encerramento definitivo do B.leza, o realizador andou a captar as imagens necessárias à preservação da memória do B.Leza, onde actuaram tantos músicos portugueses e africanos, muitos deles juntos em palco para jam sessions improvisadas e onde a informalidade era o mote . Mais do que música africana, era a universalidade que marcava o que se passava no B.Leza, uma história de amor, o lugar onde muitos de nós nos encontrávamos, como disseram músicos e as proprietárias do espaço, no documentário.
            Quanto a “Kuduro – fogo no Musseke” é mais uma delirante viagem à música que se faz actualmente em Angola. Uma forma de fazer crítica social, como explicou o realizador, António Jorge, que vive parte do ano em Luanda. Uma dança, uma forma de libertação, uma expressão de uma juventude sem valores, rap angolano…. O que será o Kuduro? Quem o inventou? E há tanta gente a reclamar a paternidade do Kuduro…. Imagens delirantes de concertos, de uma dança em que o corpo tem que ter um tremenda disponibilidade para a música, de uma música com letras fortes, em muitos casos, que atravessa toda uma nova geração em Angola e que já chegou a outros países.
           Deixando os imparáveis ritmos africanos, o vimus encerrou a noite do Diana Bar com “Part of the Week-end never Dies”, um documentário sobre os Rádio Soulwax e a sua tournée mundial.
             Hoje, o Festival Internacional de Vídeo Musical entra no seu último dia com a exibição, a partir das 16h00, no Diana Bar, dos videodocumentários “One Man in the Band”, de Adam Clitheroe; “The Night James Brown Saved Boston”, de David Leaf, e “Sounds of Silence”, de Amir Hamz e Mark Lazaz. A sessão de encerramento e de entrega de prémios tem lugar neste espaço, a partir das 22h00.
             Entretanto, continuam as exibições de videoclipes no Nox, Brisa e Guima´s.

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