Ícone da cultura e da música de Cabo Verde, Mário Lúcio vem a Évora apresentar o seu último livro, o romance “O Diabo foi meu Padeiro”, numa sessão dia 8 de outubro, pelas 18h00, na Igreja de São Vicente, que culmina com um concerto do autor. A Câmara Municipal de Évora convida o artista a partilhar com o público eborense a sua experiência enquanto autor e a ficar a conhecer o seu trabalho como músico. O vereador da cultura Eduardo Luciano conduz a palestra e tanto esta como o momento musical que a sucede são de entrada livre, embora limitados à lotação do espaço, de acordo com as atuais regras de convivência social.
“O Diabo foi meu padeiro”, publicado em 2019, pela editora Dom Quixote, é o terceiro romance do autor, também já consagrado na ficção, poesia e escrita para teatro. Na obra, Mário Lúcio, que nasceu no Tarrafal (Ilha de Santiago, Cabo-Verde) e que viveu, na infância e adolescência no campo militar ali instalado, recria e romanceia histórias de prisioneiros da Colónia Penal do Tarrafal.
Local de injustiça, horror e morte, esta prisão do Estado Novo, criada em 1936, recebeu presos políticos de Portugal, da Guiné, de Angola e de Cabo Verde. Mário Lúcio assistiu de perto ao sofrimento e à luta de sobrevivência destes reclusos e com este livro presta homenagem a esses homens.
Aos 56 anos de idade, Mário Lúcio tem um percurso artístico ímpar, na literatura e na música, e também assumiu posições de destaque na vida cultural e política do seu país. Com formação académica em Direito, entre outras funções desempenhadas, foi deputado do parlamento cabo-verdiano, de 1996 a 2001; embaixador cultural e depois ministro da cultura do país, cargo que ocupou de 2011 a 2016. Foi condecorado com a Ordem do Vulcão, tal como Cesária Évora, mas foi o artista mais jovem até hoje a receber tal distinção em Cabo Verde. A par dessa, recebeu muitos outros prémios e distinções na sua carreira musical e literária, em países lusófonos e a nível global.
As aptidões intelectuais e artísticas de Mário Lúcio revelam-se cedo. Ainda no liceu, toca guitarra e tem uma banda de música; com uma bolsa de estudos frequenta a Universidade de Havana, cidade onde conhece Pablo Milanês e forma outro grupo musical. Regressa ao seu país em 1990 e poucos anos depois funda a mítica banda Simentera. Nesta formação grava quatro álbuns e desde que a mesma terminou editou mais cinco álbuns.
Como cantor e compositor, Mário Lúcio mantém atuais e vivos o Batuque, o Funaná, a Morna e a Coladeira. É uma referência da música tradicional cabo-verdiana, mentor de vários outros artistas. Pelo mundo, em estúdio ou ao vivo, já compôs, gravou e tocou com nomes como Cesária Evora e Mayra Andrade (Cabo Verde); Manu Dibango (Camarões); Touré Kunda (Senegal); Paulinho Da Viola, Gilberto Gil, Milton Nascimento (Brasil); Pablo Milanes (Cuba); Mario Canonge e Ralph Tamar (Martinica) Teresa Salgueiro, Luis Represas, (Portugal); Toumani Diabate (Mali), Harry Belafonte (EUA), Judith Sephuma (África do Sul), Wanda Baloyi (Moçambique); ou Oliver Mtukudzi (Zimbabué).