No seguimento da sua estreia nacional no festival Curtas Vila do Conde, Farpões Baldios, de Marta Mateus, foi premiado com o Grande Prémio para Melhor Filme da Competição Internacional.
Pelas palavras de Marta Mateus, talvez este filme tenha começado numa casa sem luz e sem água — a “casa de conto” onde nasceu, perto de Estremoz. Viveu ali até aos 10 anos. “Não conseguiam pôr-me na escola. Eu queria estar com as pessoas no campo. Contavam-me as suas histórias, como elas eram quando crianças — como era partilhar uma sardinha por dez pessoas” (como era bater às portas para pedir azeite já usado para barrar no pão). “Essa foi a realidade de mais de metade do país. Muitas dessas pessoas eram analfabetas. Mas sabiam contar histórias”. E elas foram os primeiros “filmes” que Marta viu: visões de searas a arder no Alentejo, de luta pela sobrevivência, máquinas, gado, operários, patrões. “Fui ao cinema mais tarde, só tivemos eletricidade e televisão mais tarde. Os meus filmes foram essas imagens que aquelas pessoas contavam, naquela paisagem. Era a história deles, e era a minha.”
Marta Mateus quis vincar e partilhar essas memórias e regressou para recuperar aquelas expressões, agora já com rugas, com gestos cansados, mas com os vestígios de uma história, a “nossa história”.
Nas palavras do júri, Farpões Baldios é um filme que “revivifica uma linhagem de obras onde a infância desbloqueia os sofrimentos, os erros e a virtualidades do passado, tradição que devemos, entre outros, a Manoel de Oliveira, a António Reis e Margarida Cordeiro, a Teresa Villaverde.”
Farpões Baldios, a primeira curta metragem de Marta Mateus, teve a sua estreia mundial em maio na Quinzaine des Réalisateurs.
O Município de Estremoz felicita Marta Mateus pelo prémio e pelo sucesso alcançado que, desta forma, dignificaram e levaram, internacionalmente, o nome e as memórias do concelho de Estremoz.
Brevemente o filme será exibido no Teatro Bernardim Ribeiro.