Investigadores europeus, africanos e da América do Norte, central e do sul vão reunir-se entre os dias 12 e 14 de outubro em Reguengos de Monsaraz no colóquio “Enclosing Worlds. Comparative approaches to enclosure phenomena”. Trata-se de uma iniciativa de Arqueologia Comparada, que pela primeira vez se realiza em Portugal, pretendendo-se comparar os recintos pré-históricos europeus, como o dos Perdigões, em Reguengos de Monsaraz, com outros semelhantes que se desenvolveram nos continentes americano, africano e no extremo oriental da Europa, próximo da Ásia.
O povoado dos Perdigões situa-se a cerca de um quilómetro da cidade de Reguengos de Monsaraz e é um grande complexo de recintos genericamente circulares e concêntricos, definidos por grandes fossos escavados no subsolo, ocupando uma área superior a 16 hectares. Iniciado no final do Neolítico, há cerca de 5.500 anos, prolongou-se durante toda a Idade do Cobre e chegou ao início da Idade do Bronze, há 4.000 anos, altura em que ocorreram profundas mudanças sociais e cosmológicas que levaram ao seu abandono. O local terá assumido desde o início um importante papel na gestão das identidades locais, tornando-se num sítio de encontro para práticas ritualizadas.
O colóquio vai decorrer no Auditório Municipal de Reguengos de Monsaraz e é organizado pelo Núcleo de Investigação Arqueológica da Era Arqueologia, Município de Reguengos de Monsaraz, INARP – Programa Global de Investigação Arqueológica dos Perdigões e ICArEHB – Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano da Universidade do Algarve. Esta iniciativa pretende focar-se na emergência e desenvolvimento dos recintos pré-históricos europeus enquanto prática social de enclausuramento de larga escala, expressa através de arquiteturas, organização de paisagens e formas de gestão territorial.
Procurar-se-á confrontar a diversidade deste fenómeno europeu entre o Neolítico e a Idade do Bronze com outros processos pré-históricos e históricos da construção de recintos e de espaço encerrados desenvolvidos em diferentes regiões e noutros continentes, e discutir as implicações e os papéis sociais dessas arquiteturas e estratégias de organização espacial. Com este propósito, a iniciativa reunirá e porá em confronto vários casos de estudo da Europa, da África central e do sul, e da América do Norte, central e do sul, procurando estimular o desenvolvimento de estudos comparativos neste tópico e debater metodologias, nomeadamente no que respeita à definição de unidades comparáveis controladas.
A sessão de abertura do colóquio decorre amanhã às 9h30, seguindo-se uma conferência e comunicações sobre “Recintos de pedras do Senegal e Gâmbia”, por H. Bocoum e Luc Laporte, da Universidade de Rennes, e “Sítios de vida comunitária: pessoas, tempo, espaço”, por Lara Milesi, da Universidade de Granada. A fechar os trabalhos da manhã, William Mackay vai falar sobre “Recintos dos Andes e o conceito “kancha”.
Pelas 14h30, Filipa Rodrigues, da Crivarque, vai apresentar uma comunicação intitulada “O sítio tem um fosso. E agora?”, e meia hora depois, Rui Mataloto, do Município de Redondo, e Catarina Costeira, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vão abordar o tema ““Extensão de um círculo: o recinto de São Pedro (Redondo, Portugal)”. Ana Vale, do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património, vai falar sobre “O diálogo possível entre os recintos fortificados da Península Ibérica. As várias escalas de comparação”, enquanto Lucy Shaw Evangelista, da Era Arqueologia, vai responder à pergunta que intitula a sua apresentação: “Estarão a enclausurar os mortos?”.
Às 17h, José Iriarte, da Universidade de Exeter, vai abordar o tema “Paisagens sagradas das montanhas do Sul do Brasil: Compreender as mamoas e os recintos proto-Jê do Sul”, e Mark Robinson, da mesma universidade, vai falar sobre “Dualismo fechado: Metades e rituais mortuários nas montanhas do Sul do Brasil”. Antes do debate que encerra o primeiro dia de trabalhos, José Iriarte e Mark Robinson vão juntar-se a dois colegas da Universidade de Exeter, Jonas Gregorio de Souza e Rafael Corteletti, para apresentarem a comunicação “O aparecimento dos monumentos: Resistindo a forasteiros nas contestadas paisagens do Sul do Brasil”.
O colóquio internacional continua na quinta-feira, dia 13 de outubro, pelas 9h30, com André Spatzier, da Secretaria de Estado de Gestão do Património e Arqueologia da Alta Saxónia, que vai falar sobre “Metáfora do Mundo e a dialéctica do significado. Os recintos circulares de Pömmelte and Schönebeck, Saxony-Anhalt”, seguindo-se Catherine Frieman, da Universidade Nacional da Austrália, que vai abordar o tema “Mundos no interior de mundos: os recintos e a paisagem circunscrita no fim da Pré-História na Cornualha”.
Às 10h30, Luc Laporte, Jean-Noël Guydo, Nicolas Fromont, Philippe Forre, Emmanuel Ghesquiere, Jean-Marc Large, Cyril Marcigny, Bertrand Poissonnier, Cyrille Billard e Catherine Bizien-Jaglin vão apresentar a comunicação “Derramando uma nova luz nos recintos neolíticos do Oeste de França”, e pelas 11h30, António Carlos Valera, da Era Arqueologia, vai falar sobre “Recintos pré-históricos do Sudoeste da Península Ibérica: expressões tangíveis da imaterialidade neolítica”. Os trabalhos da manhã encerram com uma comunicação do arqueólogo Enrique Cerillo-Cuenca, e de Adara López López, da Universidade de Alcalá, sobre “Fechando os recintos: identificação e caraterização através dos dados LiDAR na região de La Serena (Extremadura, Espanha), e outra de Felicitas Schmitt, da Universidade de Tubinga, intitulada “Buracos negros e revelações. O recinto de fossos de El Prado (Azután, Espanha) no “deserto” interior”.
“Recintos do Mediterrâneo Ibérico. Uma história de cinco milénios” é o tema que Teresa Orozco-Köhler e Joan Bernabeu-Aubán, ambos da Universidade de Valência, vão apresentar pelas 14h30 neste colóquio internacional, seguindo-se “Restos faunísticos articulados no recinto de El Casetón de la Era (Villalba de los Alcores, Valladolid)”, por María Carbajo Arana, da Universidade de Valladolid, e Carlos Fernández Rodríguez, da Universidade de León. Krassimir Leshtakov, da Universidade de Sofia, vai falar sobre “Fossos e memória: recintos trácios no curso e através dos tempos”, e Nikolina Nikolova, da mesma universidade búlgara, vai abordar o tema “Uma nova moda para o Neolítico antigo: recintos de fossos nos Balcãs”.
Pelas 17h, Christina Michel, Wolfram Schier e Susanne Hoffmann, todos da Universidade de Berlim, propõem falar sobre “Um olhar mais além. Novas perspetivas nas rodelas do Neolítico médio”, enquanto Sanna Saunaluoma, da Universidade de São Paulo, e Pirjo Kristiina Virtanen, da Universidade de Helsínquia, vão abordar o tema “Iconografia contida na Paisagem: As fortificações geométricas do estado do Acre, sudoeste da Amazónia”. A última comunicação do colóquio, antes do debate, intitula-se “No exterior de muros e fossos no Centro e Sul de Portugal” e estará a cargo de Ana Catarina Sousa, do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa. Na sexta-feira, os investigadores vão visitar o Cromeleque dos Almendres, o Recinto de Montoito e o Recinto dos Perdigões.
Durante o colóquio internacional vão estar em exposição várias comunicações em formato de poster, integrando imagens e textos. “Um fosso num abrigo? Figura iconográfica de um recinto de fossos na Lapa dos Gaivões (Portugal)”, é a proposta de Andrea Martins, do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, enquanto António Carlos Valera e Rui Mataloto apresentam “Abrindo espaços fechados: interpretando o desmonte parcial de estruturas de pedra circulares do Calcolítico do Sul de Portugal”.
“O recinto do ‘Castro da Columbeira’ (Bombarral, Portugal): uma primeira abordagem” é o tema da comunicação de Cláudia Manso, do Município do Bombarral, e de Francisco Rosa Correia e Eliana Goufa, ambos da Universidade do Algarve. José Arnaud, Presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, Mariana Diniz, César Neves e Andrea Martins, todos do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, apresentam “Um fosso no registo arqueológico: revisitando a bibliografia do sítio de Vila Nova São Pedro (Azambuja, Portugal)”.
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