O 81º aniversário da revolta operária ocorrida a 18 de janeiro de 1934 vai ser assinalado na Marinha Grande, com um conjunto de iniciativas organizadas pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV), com o apoio da Câmara Municipal.
O objetivo das atividades é evocar o movimento dos operários vidreiros que, há 81 anos, encetaram um movimento de insurreição nacional, resultante de um longo processo de luta social e sindical, pela melhoria das condições de vida da classe trabalhadora.
O programa das comemorações é o seguinte:
De 10 a 31 de janeiro
Biblioteca Municipal da Marinha Grande
Exposição “STIV Passado, Presidente e Futuro”
Horário:
Segunda a sexta-feira, das 09h00 às 12h30 e das 13h30 às 17h00
Sábado, das 14h30 às 18h00
Dias 17 e 18 de janeiro
Museu do Vidro
Visitas gratuitas
Organização: Câmara Municipal da Marinha Grande
Dia 17 de janeiro . SÁBADO . 15h00
Sede da ASURPI
Matiné Dançante
20h00 . Parque Municipal de Exposições
Jantar convívio com animação musical pelo grupo Taramela
(Inscrições nas empresas junto dos delegados sindicais e na sede do STIV, até dia 12 de Janeiro.)
Mostra de fotografia – Associação Amigos do Comboio de Lata
Dia 17 de janeiro . 21h30
Casa da Cultura – Teatro Stephens
Espetáculo “Por este rio acima”, pela Companhia S.A. Marionetas Teatro & Bonecos
Organização: Câmara Municipal da Marinha Grande
Dia 18 de janeiro . DOMINGO .
00h00 . Parque Municipal de Exposições
Salva de morteiros e fogo de artifício
10h00. Romagem aos cemitérios de Casal Galego e Marinha Grande, com deposição de flores nas campas dos prisioneiros por participação no movimento operário do 18 de Janeiro 1934
Intervenção sindical de homenagem aos falecidos proferida no cemitério da Marinha Grande
11h30 . Praça do Vidreiro
Atuação do grupo de percussão Tocándar
Intervenções sindicais, com a presença da comissão executiva da CGTP-IN junto ao Monumento do Vidreiro.
16h30 . Estúdio Poeiras Glass
Trabalhando o vidro ao vivo
Clube dos Músicos da Marinha Grande
Sessão de poesia “Notas faladas”
Atuação de Deolinda Bernardo, José Pires e Hélder Nobre
21h30 . Casa da Cultura – Teatro Stephens
Concerto “Diabo na Cruz”
Organização: Câmara Municipal da Marinha Grande
Dia 23 de janeiro . SEXTA-FEIRA . 21h30
Coletividade da Amieirinha
Noite de Fados com Joaquim Rocha (guitarra), Mário Maduro (viola) e os fadistas Cármen Dolores, Mário Godinho, António Filipe e Mónica Batista.
Dia 25 de janeiro . DOMINGO . 10h30
Prova de atletismo “18km do Vidreiro”
Partida e chegada junto ao STIV
Organização: STIV – Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira
Apoio: Câmara Municipal da Marinha Grande e Junta de Freguesia da Marinha Grande
A Revolta na Marinha Grande
A revolta do 18 de janeiro de 1934 surgiu como movimento nacional de contestação à ofensiva corporativa contra os sindicatos livres, por força do recém-publicado “Estatuto do Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais”, em Setembro de 1933, pelo Estado Novo.
O movimento saiu para a rua e desenrolou-se, embora desarticulado. Contudo, a falta de apoio militar e a fraca adesão e repercussão nacional condenou-o ao fracasso.
Registaram-se greves gerais de caráter pacífico em Almada, Barreiro, Sines, Silves, e manifestações operárias, mais ou menos violentas na Marinha Grande, Seixal, Alfeite, Cacilhas e Setúbal.
Foram sabotadas estruturas de transportes, comunicações e de energia entre Coimbra e o Algarve, com destaque para Leiria, Martingança e Póvoa de Santa Iria. Registaram-se confrontos armados com forças policiais em Lisboa e Marinha Grande, onde o movimento atingiu grandes repercussões.
Quando, em finais de 1933, se iniciaram os preparativos da insurreição e Greve Geral nacional do dia 18 de Janeiro de 1934, o centro industrial vidreiro da Marinha Grande não ficou de fora.
Em articulação com as organizações sindicais nacionais, o movimento foi liderado por José Gregório, Teotónio Martins, Manuel Baridó, António Guerra, Pedro Amarante Mendes, Miguel Henrique e Manuel Esteves de Carvalho.
Entre a meia-noite e as duas da manhã do dia 18 de Janeiro de 1934, vários trabalhadores da Marinha Grande, na sua maioria vidreiros, reuniram-se em Casal Galego.
Estavam munidos de ferramentas para corte de árvores e vias de comunicação, de espingardas, revólveres, pistolas e bombas. Organizaram-se em brigadas e receberam instruções por parte dos dirigentes do movimento. Cortaram as estradas de acesso à Marinha Grande e a via-férrea.
Ocuparam a Estação dos Correios e Telégrafos e o Posto da GNR, com a consequente rendição e desarmamento dos soldados da Guarda Republicana e distribuição de armas pelos revoltosos.
Foram assim criadas condições para que se pudesse realizar a paralisação geral do trabalho na manhã do dia 18 de Janeiro. Porém, o movimento foi contido logo ao início da manhã. Os insurretos foram surpreendidos com a chegada à Marinha Grande das forças policiais vindas de Leiria. Seguiram-se o Regimento de Artilharia Ligeira 4 e do Regimento de Infantaria 7.
Os revoltosos ainda resistiram, mas, pela manhã, as autoridades tomaram a cidade, onde declararam o estado de sítio. Mandaram encerrar as fábricas, iniciando as buscas e detenções daqueles que participaram no movimento, gorando o objetivo da paralisação geral do trabalho.
O número de detidos terá ascendido, a 131 pessoas. 45 revoltosos foram processados e condenados ao desterro pelo Tribunal Militar Especial, com penas entre 3 e 14 anos de prisão e ao pagamento de pesadas multas.
Nesta conjuntura iniciou-se um longo processo de luta contra o Estado Novo, contra a ditadura, a censura e o estado corporativo. Reclamou-se o direito elementar à liberdade, do qual resultaram milhares de presos políticos, considerados de “especial perigosidade”. Alguns foram deportados para a ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, nomeadamente para a Colónia Penal do Tarrafal, conhecida como o “campo da morte lenta”.
Os revolucionários do 18 de Janeiro foram derrotados num combate em que a heroicidade não bastava para vencer a enorme desigualdade de forças.