Economia, Sociedade

Pós-venda automóvel português vale 2,4 mil milhões de euros

expomecanica_motorcompQuase só damos por ele quando temos que substituir uma peça, comprar um acessório, repor os fluídos ou, por fim, a avaria bate à porta. Mas, o certo é que, não obstante o fecho de milhares de empresas nos últimos cinco anos, e um significativo contributo para a taxa de desemprego do País, o chamado aftermarket da fileira automóvel em Portugal vale, ainda assim, aproximadamente 2,4 mil milhões de euros, no que ao consumo interno diz respeito.

Os números são da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN), pela voz do seu presidente, António Teixeira Lopes, que aproveita o facto de estarmos a quase duas semanas da estreia do expoMECÂNICA – Salão de Equipamentos, Serviços e Peças Auto (informação pormenorizada em http://www.expomecanica.pt) para fazer uma radiografia aos segmentos grossista e retalhista da atividade. Mas não só.

Durante três dias, de 3 a 5 de outubro, e utilizando o Pavilhão 6 da EXPONOR – Feira Internacional do Porto enquanto “oficina de campanha”, o certame, organizado pela KiKai Eventos, como que veste o fato-macaco para ajudar o setor de pós-venda automóvel a repor energias. Fá-lo-á com o autoClássico – 12.º Salão Internacional do Automóvel e Motociclo Clássico e de Época a decorrer em simultâneo, bem ao lado.

Para além de potenciar negócios (de montante a jusante dos 94 expositores que o expoMECÂNICA assegurou até à data), o momento não deixará de ser aproveitado pelo tecido empresarial, profissional, associativo e formativo para fazer o diagnóstico de conjuntura (ao longo das várias iniciativas paralelas em agenda), isto depois de mais um ano particularmente exigente para vários segmentos económicos.

 

«O pior já passou», mas a inversão será «lenta»

No seu conjunto, e tendo por base a avaliação feita pelo líder da ARAN, o volume de negócios da área aftermarket (estimado em 2,5 mil milhões há um par de anos) encolheu aproximadamente 100 milhões de euros, em apenas dois anos, isto é, 4%. «O consumo interno terá baixado e estará na ordem dos 2,4 mil milhões de euros», reconhece o dirigente associativo, numa ponderação em que entra a circunstância de os automobilistas irem menos às oficinas. E «sempre para fazer unicamente o indispensável» nas viaturas.

Em média, cada um de nós gastará agora menos 50 euros anuais (10%) com a manutenção automóvel do que em 2012. «Tem decrescido e estará nos 450 euros», revela António Teixeira Lopes, lembrando que «encerraram nos últimos anos tantos reparadores como os que laboram legalmente» na atualidade, ou seja, cerca de seis mil.

Ao raciocínio soma um «fator de preocupação» extra e influente no futuro da atividade: o desemprego, que fez estragos na mão-de-obra mais jovem (na faixa dos 16 aos 34), sobretudo, prejudicou a vitalidade da força de trabalho, a qual ficou reduzida a 29 mil pessoas. Destas, sublinha o dirigente, 35,8% têm hoje mais de 45 anos de idade…

Seja como for, aponta o presidente da ARAN, a fileira permanece fundamental na economia lusa: «O valor dos salários dos portugueses ligados ao automóvel nas atividades grossista e retalhista representa quase 2% do valor total dos salários em Portugal. E, em 2012, o setor valia mais de 3.500 milhões de euros em impostos».

António Teixeira Lopes acredita que o «pior já passou» e que 2013 foi o ano «da inversão» da tendência negativa. Ainda assim, o panorama automóvel, «em todas as suas vertentes, com especial incidência no aftermarket, vai demorar a reagir». Mais: não pode ser descartado na fileira um cenário de «estagnação» económica, no mínimo, se aos portugueses não começar a ser devolvido progressivamente o poder de compra. «Se os funcionários públicos e os reformados forem despenalizados, o setor automóvel terá possibilidades de recuperar», acrescenta.

 

Uma locomotiva chamada rent-a-car, leasing e ALD

O representante máximo da Associação é céptico quanto baste perante as perspetivas – e prospetivas – de vários protagonistas do setor, que apontam a retoma na venda de veículos novos como indiciadora de um elevado potencial de crescimento, mais ou menos imediato, no pós-venda.

«Tratam-se apenas de prognósticos. Os responsáveis pelos aumentos das vendas não foram os particulares. A maior parte desse aumento não passou pelo retalho, e as vendas que passaram deixaram ficar margens muito magras», fundamenta. Isto porque, no ano corrente, estão a ser as firmas de rent-a-car, leasing e de aluguer de longa duração «as principais responsáveis pelo aumento, pois estas empresas tinham deixado de adquirir viaturas».

 

A «praga» de três mil na clandestinidade

 Faça-se uma ronda pelos cerca de 770 concessionários, 890 reparadores autorizados e as quase seis mil oficinas independentes legais, lance-se a todos eles a mesma pergunta e eis que a resposta, traduzida estatisticamente, evidencia uma troca de lugares que alguns consideram “histórica” e que o mais recente inquérito setorial de conjuntura constata. A principal dificuldade à atividade do segmento de reparação deixou de ser o atraso nos recebimentos pelos serviços feitos e, por significativa margem, é agora a economia paralela.

A «praga» da reparação clandestina representará, estima a ARAN, metade da legal, em número de empresas: à volta das três mil. «Desconhecemos o seu número exato, pois trabalham à porta fechada», mas, com a ajuda de dados fornecidos pelos associados, revela António Teixeira Lopes, «já fornecemos informações às autoridades». No entanto, «até ao momento, desconhecemos os resultados», remata.

 

expoMECÂNICA com empresas de Espanha e Itália

 Quanto ao expoMECÂNICA, a que a ARAN empresta o seu apoio, António Teixeira Lopes transporta uma expectativa: «Seria bom que este se internacionalizasse, para não ter de ser necessário ir a Paris ou a Frankfurt, para ter informação nova e conhecer novidades». E, ao que parece, os primeiros sinais da organização do evento indiciam passos nesse sentido, visto que o certame recebeu a confirmação da presença de 10 firmas espanholas e uma italiana.

O 1.º Salão de Equipamentos, Serviços e Peças Auto tem quase todos os distritos nacionais representados na massa expositiva, mas com preponderância de empresas das zonas do Porto, Lisboa, Aveiro e Braga. Em destaque estarão as últimas novidades nos segmentos de peças e equipamentos, reparação e manutenção, tecnologias de informação e gestão, acessórios e personalização, e, também, estações de serviço e lavagem de carros.

E enquanto alguns participantes preferem reservar informação sobre as novidades para o epicentro da feira, outras há que vão entreabrindo a cortina do que estará em destaque, no site da exposição (ver em www.expomecanica.pt).

 

Capotamentos e workshops entre negócios…

 As atividades paralelas, por seu turno, contarão com a presença dinâmica do curso de Engenharia Automóvel do Instituto Politécnico de Leiria. No âmbito de várias ações de prevenção e segurança rodoviária, terá na feira um simulador de capotamento, que poderá ser experimentado, e realizará simulações estáticas de atropelamento e a sua reconstituição científica em filme real, para além da visualização de “crash tests”.

A ARAN, por sua vez, abordará a atualidade do pós-venda no dia 4 (sábado), a partir das 14,30 horas, através de um workshop segmentado em nove painéis. Perspetivas de futuro no retalho automóvel, Oficina Certa e Usado Certo, os novos projetos da Associação, a valorização dos automóveis clássicos, a qualificação e o emprego no setor, o centro de arbitragem automóvel, protocolos ao nível dos “combustíveis verdes”, a comercialização de pneus e, por último, o equipamento oficinal (protocolos) – constituem os assuntos em agenda.

A parte da manhã será ocupada pela conferência “Como criar negócio na oficina” (das 9 às 13 horas), sob organização da revista Turbo Oficina.

Mas os acontecimentos complementares do expoMECÂNICA não se ficam por aqui e, a avaliar pelo grau de envolvimento das empresas, um dos mais dinâmicos ameaça ser mesmo a “Oficina em Movimento”. O exercício simulará o funcionamento de uma unidade de assistência para serviços rápidos, com coordenação do CEPRA, apoio editorial da “Turbo Oficina” e produtos de empresas expositorasVeja informação detalhada e atualização permanente das atividades paralelas em http://www.expomecanica.pt

 

A síntese do evento:

expoMECÂNICA – 1.º Salão de Equipamentos, Serviços e Peças Auto

Organização: KiKai Eventos

Data: de 3 a 5 de Outubro de 2014

Local: EXPONOR – Feira Internacional do Porto, Pavilhão 6

Horário: das 15:00 às 22:00, no dia 3 (sexta-feira); das 10:00 às 22:00, no dia 4 (sábado); das 10:00 às 20:00, no dia 5 (domingo)

Em exposição: peças auto; ferramentas; pneus; equipamentos para teste; oficinas mecânicas e elétricas; estações de serviços e de lavagem de carros; combustíveis; lubrificantes e aditivos; tintas e vernizes; ceras e materiais de limpeza; funilaria e pintura; tecnologia, equipamentos, produtos e serviços para a indústria automóvel; concessionários; entidades sectoriais; e publicações especializadas

Perfil do visitante: O expoMECÂNICA é um salão profissional. O acesso faz-se mediante convite e os profissionais devem credenciar-se antes da sua visita. É interdita a entrada a menores de 14 anos.

Apoios:Associação Nacional do Ramo Automóvel, Centro de Formação Profissional da Reparação Automóvel e Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel

Media partners: Jornal das Oficinas, Revista dos Pneus, Turbo Oficina, Turbo Oficina Pesados, Vida Económica – Suplemento da Associação Nacional do Ramo Automóvel e Revista da ANECRA

 

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