O júri da 16.ª edição do Prémio Literário Orlando Gonçalves – Modalidade Ficção Narrativa, constituído por: Rogério Rodrigues, representante da Câmara Municipal da Amadora, José Correia Tavares, representante da Associação Portuguesa de Escritores, e José Fanha, representante da Sociedade Portuguesa de Autores, deliberou, por unanimidade, atribuir o Prémio Literário Orlando Gonçalves 2013 à obra concorrente com o título “Personae”, da autoria de Ruy Reis Tapioca.
Ruy Tapioca é natural de Salvador da Bahia e reside no Rio de Janeiro. É autor dos romances A República dos Bugres (Prêmio Nacional Minas de Cultura/Guimarães Rosa de Literatura 1998), Admirável Brasil novo e O Proscrito. Com o romance Conspiração Barroca venceu o Prémio Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte 2005. O romance O Senhor da Palavra conquistou o 1º Lugar Nacional do Prémio Literário Cruz e Sousa 2008-2009.
O júri decidiu ainda atribuir Menção Honrosa à obra “Fragmentos”, da autoria de Margarida Fonseca Santos.
Sobre a obra vencedora, pelo autor
“Ao estilo de uma “novela policiária”, género literário que Fernando Pessoa sempre cultuou, como leitor e escritor, o romance PERSONAE (palavra que provém do latim PERSONA, que, na teoria de C. G. Jung, representa a personalidade que o indivíduo apresenta aos outros como real, mas que, na verdade, é uma variante às vezes muito diferente da verdadeira) narra o último ano de vida (1935) do grande poeta português de “Mensagem”. Trata-se de romance polifónico, narrado por muitas personagens (vozes), na 1a.pessoa, e por um estranho narrador onisciente, na 3.ª pessoa, que conduz a narrativa (a distância e oculto), tendo revelada sua identidade somente no epílogo da obra.
Fazem parte e têm voz em PERSONAE, como personagens literários (fictícios) da trama, os principais heterónimos e criaturas literárias criadas por Fernando Pessoa, inclusive o próprio, como narrador ortónimo, para além de participarem da urdidura do romance pessoas reais, amigas e desafetas do grande poeta, que com ele conviveram em suas deambulações pelas ruas da Baixa lisboeta, Bairro Alto, Chiado e o centro de Lisboa.
Investigado pela PIC e pela PVDE (as polícias portuguesas do tempo de Salazar), consequência de poesias satíricas e cartas anónimas, retiradas da famosa “arca” do poeta, os papéis (apócrifos) foram anonimamente enviados à PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), sendo todos considerados ofensivos ao Presidente do Conselho de Ministros de Portugal.
O desenlace do romance é absolutamente inesperado, como soía acontecer com as “novelas policiárias” solucionadas pelo doutor Abílio Fernandes Quaresma, uma espécie de “Sherlock Holmes português”, um dos principais personagens literários criados por Fernando Pessoa, que também faz parte da trama do romance.
A epígrafe que abre o romance, um famoso verso de Fernando Pessoa, revela à perfeição o que foi a aventura literária do poeta enquanto viveu entre nós:
Se as coisas são estilhaços / Do saber do universo, / Seja eu os meus pedaços, / Impreciso e diverso. / E como são estilhaços / Do Ser as coisas dispersas, / Quebro a alma em pedaços / E em pessoas diversas. “
Sobre a menção honrosa, segundo a autora
“Coletânea de contos de Margarida Fonseca Santos. Divididos em duas partes, Fragmentos Simples de Pessoas Complexas e Fragmentos Complexos de Pessoas Simples, estes são contos de pessoas como nós, em momentos da vida em que, num pequeno fragmento, tudo muda, ou tudo se modifica. Uma visão do presente, escondido entre o passado e o futuro.”
Margarida Fonseca Santos nasceu em 1960, em Lisboa. A paixão por dar aulas é algo que atravessa toda a sua atividade profissional, tendo começado na Formação Musical, depois seguindo para a Pedagogia. Começou a escrever aos 33 anos, um pouco por acaso. Desde 2005, dedica-se por inteiro à escrita, dando aulas, agora de Escrita Criativa a jovens, adultos e professores. Os seus dias repartem-se entre os momentos de escrita, as idas às escolas como autora, os cursos e as sessões onde conta as suas histórias. Tem vários livros publicados, a grande maioria na área infantojuvenil. Ganhou, na ficção para adultos, os prémios: Revelação APE/IPLB 1996; Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca (1996); e Prémio Novela Manuel Teixeira Gomes (2007/8), estando todos publicados.
Escreve contos todos os meses para o Jornal de Letras e é responsável pelo projeto histórias em 77 palavras.
O Prémio
O Prémio Literário Orlando Gonçalves, instituído em 1998 pela Câmara Municipal da Amadora, tem por objetivo, por um lado, homenagear a memória do escritor e jornalista Orlando Gonçalves, e por outro incentivar a produção literária, contribuindo para a defesa e enriquecimento da língua portuguesa.
Este prémio destina-se a galardoar, anualmente e de forma alternada, uma obra de ficção narrativa e um trabalho jornalístico de investigação ou grande reportagem.
Orlando Gonçalves
Orlando Bernardino Gonçalves, um dos percursores do movimento neorrealista português, foi escritor e jornalista de imprensa escrita e de rádio, tendo sido inclusive Diretor do jornal Notícias da Amadora durante mais de trinta anos, atividade que sempre desenvolveu a par das suas intervenções cívicas e políticas na defesa dos direitos e deveres de uma cidadania plena, consciente e esclarecida, sustentada pelo enriquecimento intelectual.
Orlando Gonçalves foi agraciado com a Medalha de Ouro da Cidade da Amadora em 1989, em 1993 o seu romance Enredos da Memória foi galardoado com o Prémio Literário Cidade da Amadora e em 1997 foi mais uma vez homenageado pela Câmara Municipal da Amadora, por ocasião das comemorações do 25 de Abril.
Prezado(s) jornalista(s),
apesar do aborto em vigor ter empobrecido e feito retroceder parcialmente o Português ao Português dos séculos XIV e XV, com a pequena diferença de apesar de cada qual poder escrever quase como quisesse, a ortografia daquela altura não alterava a fonética das palavras como este acordo implicitamente preconiza, o que é facto é que em Português padrão se continua a grafar o vocábulo “prémio” com acento agudo (e não com acento circunflexo como aparece no texto) e o vocábulo “omnisciente” continua a ter a letra “m” após o “o” (e não sem ele como aparece no texto).
Antecipadamente grato pela vossa atenção.