Terá lugar nos próximos dias 29 e 30 de junho a II Feira da Batata e do Limão de Monchique.
Quando, a 16 de Janeiro de 1773, D. José I desanexou do termo de Silves o território que hoje constitui o município de Monchique, no Algarve, fé-lo por, entre outras razões, ter em consideração o facto de aqui se produzirem bons e suculentos frutos que muito agradariam à real coroa e que aí chegariam pelas boas mãos e intervenção de Sebastião José de Carvalho e Melo, afincado servidor de Sua Alteza Real.
Ainda hoje, passados que são 240 anos, Monchique conserva-se como um oásis no Algarve onde é possível encontrarmos alguns dos bons frutos que o elevaram a concelho assim como excelentes condições naturais para a produção de outros, que o recomendam como área privilegiada para aí se investir.
É neste contexto histórico e da necessidade de se promover a economia agrícola de Monchique que decorre a realização deste evento que designamos por Feira da Batata e do Limão, de que se realizará uma II Edição este ano, a 29 e 30 de Junho, sábado e domingo no largo principal da vila.
A Feira será uma montra das pequenas explorações agrícolas de dimensão familiar pautando-se pela riqueza da diversidade do que aí se produz. Ao colorido do limão e da batata, a edição deste ano será alargada a todos os outras produções agrícolas, nomeadamente as hortícolas, por forma a que o certame seja uma mostra do que ainda se produz em Monchique e que se pretende levar à mesa da realeza dos tempos actuais, que são os apreciadores de produtos com origem, com história e com uma proveniência certificada por si próprios.
Breves notas sobre a economia agrícola familiar de Monchique
A maior riqueza gerada em Monchique nos citrinos reside no cultivo da variedade Limão, onde podemos encontrar cerca de 200 hectares plantados em Monchique e que goza aqui de excelentes condições edafo-climáticas para a sua produção ao longo de todo o ano, contribuindo para que o Algarve detenha a maior produtividade (20 t/ha) e a maior superfície no contexto nacional (35%). Originário da Ásia, difundido através da expansão árabe, a área de limão em Monchique representa mais de 40% da área total do Algarve nesta produção.
Factor distintivo do Limão de Monchique face à restante produção nacional e do Algarve está a sua disponibilidade ao longo de todo o ano, a qualidade da sua casca para extracção de essências e a quantidade e qualidade de sumo que é possível obter-se, o que se deve às condições da sua produção num regime quase biológico se tivermos em conta o baixo índice de tratamentos e adubações efectuadas.
E desde sempre o limão foi largamente apreciado pelas suas propriedades medicinais para a saúde, não só pelo facto de ser um anti-séptico poderoso como pelo facto de ser uma rica fonte de vitamina C fundamental para a prevenção da gripe, além de possuir um activo na sua casca designado por d-limoneno fundamental para o combate a diversos tipos de enfermidades, o que recomenda a sua utilização em chás.
Já quanto às batatas, trazidas da América do Sul pelos espanhóis durante o século XVI, este tubérculo encontrou na serra de Monchique tão boas condições para a sua cultura e incremento que ficaram desde sempre por bem conhecidas as batatas de Monchique, com especial ênfase para as batatas da Fóia.
Cultivadas em Monchique desde o início do século XX as batatas desempenharam aqui um papel idêntico ao que tiveram na Irlanda como fonte de alimentação humana sendo cada vez mais procuradas em todo o Algarve pelas suas qualidades de textura e sabor.
À produção de batata, que podemos situar em cerca de 200 hectares, se deve em boa parte o quadro da paisagem agrícola de Monchique, recortada por socalcos e canteiros que ainda hoje podemos encontrar beneficiados pela abundância de água que permite também o cultivo de outras produções hortícolas.
Refira-se que a batata é uma das ricas fontes de amido, vitaminas, minerais e fibras alimentares, contribuindo para o processo digestivo e prevenção do risco do cancro do cólon.
A batata e o limão constituem duas das produções emblemáticas da agricultura que ainda se pratica em Monchique, em explorações de dimensão familiar com áreas de dimensão média de 0,50 ha, onde podemos também encontrar uma grande variedade de outros produtos hortícolas e frutícolas que vão desde os frutos como as maçãs, ameixas, ginjas e peros às couves e ao feijão.
Esta economia agrícola de base familiar permite não só gerar emprego e ocupação nos tempos actuais como, por outro lado, os rendimentos que pode proporcionar apontam para caminhos que podem levar ao reverso da desertificação da serra de Monchique, tendo em conta que possamos garantir um maior acesso ao mercado já que as acessibilidades deixaram de constituir um problema.