Póvoa de Varzim, Sociedade

O Estado da Nação: Perspetivas… por Manuela Ferreira Leite na Póvoa de Varzim

image004O Clube de Caçadores da Estela voltou a encher-se em mais uma iniciativa comemorativa dos 873 anos da freguesia.

Para uma plateia de cerca de três centenas de pessoas, Manuela Ferreira Leite falou sobre o “O estado da Nação. Perspetivas…”, num discurso marcado pela sua visão realista.

A conhecida economista e política portuguesa referiu que “muito genericamente, existem erros cometidos por nós próprios, pelas políticas aplicadas e pelas instâncias que nos rodeiam, nomeadamente a Europa”.

A ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite revelou que ela própria denunciou, atempadamente, os erros cometidos pelo Partido Socialista, “questões que estavam a ser mal conduzidas e nos levaram ao endividamento. Estávamos à beira de uma rutura evidente. Os acontecimentos exteriores, na Europa e no Mundo, apenas deram o empurrão para cairmos no abismo”.

Perante isto, “são três instituições que nos ajudaram a salvar da bancarrota”, mas “não era possível fazer-se uma correção daquela dimensão. Sempre discordei do acordo estabelecido com a “troika” porque o programa de ajustamento proposto compromete o seu cumprimento de forma violenta”, assumiu.

Eu se pudesse satisfazer um desejo, teria tido imenso prazer em que  o Sócrates tivesse enfrentado a “troika” e ficar ele a tomar as medidas  terríveis. Não mais falavam de camarote tanto quanto agora falam”, respondeu  a antiga governante, quando lhe perguntaram se achava que o PSD se tinha  precipitado aquando do chumbo do PEC 4.

Na opinião da ex-ministra das Finanças, “o Fundo Monetário Internacional  (FMI) não tinha a mínima experiência de intervenções nos países” da natureza  de Portugal, uma vez que em países com moeda única “nunca tinham feito nada”.

“Eu penso que neste momento ninguém tem dúvidas, até aqueles próprios  que ditaram a receita, de que a receita está errada porque os resultados  são desastrosos”, defendeu.

Considerando que “o ritmo” imposto para as medidas é desajustado, Manuela  Ferreira Leite defendeu que “em recessão, não é possível fazer-se consolidação  orçamental”, e, portanto, “querer ajustar contas públicas em recessão é  uma impossibilidade”.

Quanto a perspetivas, a ex-deputada social-democrata considera que “o quadro de correção, ou bem que  é amenizado o seu ritmo, ou então não tem correção possível.  Vamo-nos afundando cada vez mais, pensando que estamos a corrigir”,  alertou, acrescentando que “se não houver crescimento, isto não é corrigível”.

Ferreira Leite disse ver “com bons olhos” o facto da palavra “crescimento”  ter entrado “no léxico político”, salientando a importância de “estar na  boca das próprias instituições” que impuseram o modelo que Portugal está a cumprir.

A ex-ministra das Finanças encara uma perspetiva de mudança e de melhoria para Portugal o facto de haver na Europa países como Espanha e Itália em situação económica dramática, o que poderá ser “uma boa notícia para nós”.

Advertindo que “as políticas têm que ser alteradas” porque, se tal não acontecer, “caminhamos para uma situação irreversível”, Ferreira Leite realçou que temos um “argumento fortíssimo” para o provar: “fizemos o que nos mandaram e as políticas impostas não resultaram.

A política de austeridade cria uma situação insustentável em todos os países europeus. A Europa deveria ter uma política solidária de forma a levar os países em recessão a desenvolverem-se, constatou, acrescentando que os princípios de solidariedade do projeto europeu são fundamentais.

Sobre uma questão relativa ao aumento do IVA na restauração, a ex-líder do PSD disse considerar este tema “um mistério”.

“É um mistério, porque penso que o objetivo básico de qualquer instituição  ou qualquer decisor, quando aumenta os impostos, é para obter mais receita.  Quando se lançam impostos cuja receita cai, como é claramente este imposto  e como foi claramente anunciado que seguramente ia acontecer, eu só posso  dizer que é um mistério”, justificou.

Para Ferreira Leite, esta é uma “medida absolutamente negativa do ponto  de vista de resultados” e “qualquer tomada de decisão que não tenha adesão  à realidade, é sempre errada e deve ser considerada como tal e alterada”.

“Considero quase impossível que ela não venha a ser alterada. Se não for, então, nessa altura, temos que a qualificar de outra forma, que neste  momento me dispenso de fazer”, observou.

 

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