Vai ser inaugurada na próxima sexta-feira, dia 7 de Junho, na Casa dos Cubos, em Tomar, uma exposição de pintura de Manuel Soares Traquina, intitulada “Dois rios – O Nabão e o Stour”. A mostra estará patente até 30 de Setembro, de segunda e sexta-feira, entre as 9h00 e as 12h30 e entre as 14h00 e as 17h30.
Autodidacta confesso, “absoluto e desafecto de ortodoxias”, Traquina diz fazer “do meu despretensioso amadorismo uma forma lúdica de estar na vida e, da pintura, uma necessidade intelectual”. A sua obra está referenciada na obra videográfica “Naturalismo: Arte Maior” de Afonso Brandão, e citada em “O Figurativo nas Artes Plásticas em Portugal no séc. XXI”, do mesmo autor e representada em várias colecções particulares em Portugal e no estrangeiro.
É o próprio autor que explica o porquê desta exposição, no texto inserido no catálogo:
DOIS RIOS – O NABÃO E O STOUR
“Esta exposição nasce quando, por altura de um Natal recente e num dia de magnífico sol inglês, eu bordejava o Stour, um pequeno rio que corre tranquilo, 90 milhas a leste de Londres. È fruto da inspiração do lugar, um trecho do rio, não muito extenso que J. Constable (1776-1837), o grande naturalista inglês, precursor do impressionismo, imortalizou em telas magníficas. Nessa altura veio-me à ideia o nosso Nabão.
Não por se distinguirem ou assemelharem: os rios são todos iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. O Stour e o Nabão são, em todas as suas especificidades, muito aprazíveis; aquele mais calmo, pachorrento, sem pressa de chegar a agitação do mar do Norte, o Nabão, inquieto, imprevisível, ansioso por alcançar a vastidão do Tejo, depois da calma pausa do Zêzere.
Há, contudo, um pequeno trecho de quatro milhas que os aproximam. Lá, é o trecho que J. Constable exaustivamente pintou; cá, é o que vai de São Lourenço ao Açude de Pedra. Se o Stour se tornou icónico graças a um pintor, o Nabão tem beleza e história imperecíveis.
A “Constable Country”, assim é conhecido o citado trecho do Stour, que separa Dedham de Flatford, percorre-se a pé. São cinco quilómetros ao longo do rio em paisagem característica refinada pela sorte de um dia de sol. Estão lá os cenários das suas telas, a azenha do pai que era moleiro, as eclusas que regulavam, e regulam ainda, o caudal do Stour, a Willy Lott house, tema recorrente, e as margens reflectidas nas águas quase paradas do rio. Só as árvores – os olmos, os choupos e os carvalhos – não são as mesmas, nem podiam ser, duzentos anos depois de terem sido pintadas – e disso somos avisados no pequeno museu, em Flatfford Mill, o edifício anexo à azenha. Ao longe, outro tema saliente em muitos dos quadros que pintou na região: a torre da igreja de Dedham, que data do séc. XV.
Do Nabão retemos o nervoso do seu curso, a exuberância acolhedora das suas margens, a luz, a sombra, as cores outonais dos seus plátanos, as sugestões de poesia e bucolismo. Mas há também a sua mística histórica, as lendas que lhe dão notoriedade e que a ligam indissoluvelmente à cidade templária. E, eterna, é a sua voz, a voz dos seus açudes, o marulhar da sua corrente que nos toca a sensibilidade; durante muitos anos dialoguei com o Açude dos Frades e adormeci e acordei ao som desse murmúrio que, agora, me atrevo a pintar.
Esta exposição é, assim, um protesto de veneração pela natureza que irmana os dois rios. E uma tentativa de recriar a impressão dos seus encantos, por demais inspiradores.”