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“Otimismo em tempo de crise”. Mensagem de Nery recordando Ravel na abertura do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim

Nos 75 anos da morte de Ravel: colorido impressionista, exotismo e nostalgia da infância deu mote à conferência de Rui Vieira Nery, na passada sexta-feira, no Museu Municipal.

O musicólogo referiu-se ao percurso pessoal e artístico do compositor e pianista francês que apontou como um grande nome da música do século XX reconhecendo, no entanto, que tal não pareceu evidente durante muito tempo. Na lógica vanguardista, Ravel parecia não ser suficientemente arrojado pelo seu enorme rigor de composição, mas é possível ser rigoroso e visionário, assegurou.

O contexto social em que Ravel nasceu é marcado por uma descrença generalizada no ideal de progresso e, em tempos de crise, emerge o setor cultural e artístico.

Filho de pai suíço e mãe basca, a obra do compositor reflete as influências, por um lado, do pai (ordem, organização e perfeição) e, por outro, da mãe (explosão criativa) revelando uma faceta inconformista e conformista em simultâneo.

Aos 14 anos, começou a frequentar o Conservatório de Paris. Posteriormente, em 1895, passou a estudar só e retornou ao Conservatório em 1898. Concorreu no Prix de Rome, durante cinco anos consecutivos, mas não foi bem-sucedido.

Vive-se um período assente em metáforas e os compositores querem chegar a manchas de cor sonora, identificando-se Debussy como o primeiro grande compositor impressionista, vertente também seguida por Ravel que, em 1901, compôs Jeux d’eau.

Entre 1909 e 1912, Ravel escreve um bailado sobre antiguidade clássica para a Companhia de Bailado Russa e, em 1913, Trois Poèmes de Stéphane Mallarmé, deixando parecer que está a envergar numa onda vanguardista.

Pela altura da I Guerra Mundial, compõe obras para conjunto instrumental com sopros e torna-se um dos primeiros compositores a adotar a postura do Neoclassicismo. La Tombeau de Couperin (1914) reflete um sentido de humor mordaz sendo que, por um lado, o compositor assume inspiração lírica e, por outro, troça com o Romantismo.

Em La Valse (1920), Ravel faz a representação metafórica das elites românticas. No entanto, esta procura de alternativa ao Romântico motivou interesse por outras melodias e o compositor faz uso de um manancial de inspirações: música judaica, músicas asiáticas, africanas, gregas e ainda americanas. “Paris e a Europa toda ficaram alvoraçados com estes ritmos”, afirmou Nery, destacando esta fase de Ravel marcada pelo exotismo e diferença.

O último grande campo de inspiração do compositor francês foi a nostalgia da infância influenciando bastante o que ele vai produzir, onde se encontra a perplexidade infantil, o universo do sonho e a descoberta do mundo próprios desta fase.

Em jeito de conclusão, Rui Vieira Nery referiu que Ravel foi um compositor muito complexo e difícil de perceber que se soube emancipar sem precisar de fazer o mesmo que compositores mais experimentais. Há, em si, uma noção de rutura necessária e uma procura de vários meios para dar o salto. A descoberta de músicas exóticas e abertura à música de cabaret, folclore e da infância marcaram o seu percurso e fazem dele um génio inspirador de paixão. Ficamos magnetizados com a sua música. Há uma espécie de otimismo, de que há um lado bom da humanidade que vai sobreviver a todas as crises, assinalou Nery, acrescentando a importância espiritual de Ravel para além da cultural e artística. Por isso, vale a pena celebrar os 75 anos da sua morte.

José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, congratulou Rui Vieira Nery pela magnífica lição de música e história que deu a marcar a abertura do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, felicitando-o ainda pelos seus êxitos, nomeadamente, como “pai” da candidatura do fado a património mundial.

A sessão serviu ainda para distinguir o aluno vencedor do concurso que deu origem à imagem gráfica desta edição do evento. Paulo Correia foi o criador, estudante do Curso de Artes da Escola Secundária Eça de Queirós, que recebeu das mãos do Vereador da Educação e Cultura, Luís Diamantino, o prémio monetário simbólico.

 

Acompanhe toda a programação do 34º Festival no portal municipal.

 

Informações:

A conferência e os espetáculos incluídos em “Manifestações Paralelas” são de entrada livre.

O preço dos bilhetes avulso para jovens até aos 25 anos e pessoas com mais de 65 é €4,00 e os bilhetes avulso normais custam €6,00.

Se pretender fazer aquisição dos mesmos em Grupo (mínimo de 4 bilhetes) tem o custo de €4,00 (cada) e a Assinatura (série de 9 bilhetes para os nove espetáculos) de €25,00 com oferta de brochura.

Poderá adquirir os bilhetes nos seguintes locais: Serviço de Turismo da Póvoa de Varzim (desde 22 de Junho, das 09h00 às 19h00, de segunda a sexta-feira; aos sábados e domingos, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h00); Secretariado do Festival (desde 22 de Junho, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 (de segunda a sexta-feira), na receção ou através do telefone 252 614 145 ou fax 252 612 548 | segunda a domingo: 9h00 às 20h30 através do telemóvel 925 012 988 (só para reserva de bilhetes) e ainda Auditório Municipal, Igrejas Matriz, Lapa e Românica de Rates, no próprio dia de cada espetáculo, a partir das 20h30.

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