Quem o aconselha é o médico Daniel Serrão que, ao longo de duas horas, numa palestra realizada segunda feira passada, no antigo cinema Globo d’Ouro, em Arouca, defendeu o sentido da vida, como “tudo o que é vivo, apela a viver, pois tem em si a força de viver”.
Numa tarde de sapiência, as vicissitudes da idade sénior foram o pretexto para aquele conferencista fazer o elogio da vida em qualquer idade do indivíduo, nomeadamente agora, nos tempos modernos, onde a esperança média de vida aumentou e ter 100 anos deixou de ser uma idade invulgar.
Falando para uma plateia constituída na sua maioria por gente mais velha, Daniel Serrão prendeu a atenção dos interessados com sólidos argumentos científicos e outros decorrentes da sua longa experiência profissional na área da patologia genética. Ele é hoje um sénior de 84 anos, transmitindo jovialidade e detentor de forte poder comunicativo, que começa o dia fazendo a sua caminhada, oxigenando a mente e exercitando a o corpo.
“Achaques” ou “incómodos” na idade sénior
O Parlamento Europeu aprovou 2012 como o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações. Atenta à tendência de envelhecimento da sua população, fenómeno em crescendo na Europa, o Município de Arouca tem vindo a desenvolver no terreno uma política social que faça “um pouco mais felizes ou alegres” os seus cidadãos idosos, como sublinhou a vereadora da Ação social da Câmara de Arouca.
Margarida Belém, referindo-se ao ilustre convidado da autarquia, apresentou-o como exemplo de “um sénior ativo, interveniente na sociedade”, tal como se dá a conhecer na obra “Daniel Serrão – Aqui diante de mim”, uma longa entrevista onde o médico fala dos aspetos mais invulgares da sua vida ao escritor Henrique Manuel S. Pereira.
Reconhecido pelos seus pares como uma sumidade em Patologia Anatómica e Bioética, o conferencista revelou que há “cerca de 2 milhões de portugueses com mais de 65 anos (um quinto da população portuguesa)”, representando atualmente um “estrato social que merece uma atenção cuidada do Poder político”.
À luz da interação na sociedade moderna, “o cidadão sénior deverá ser classificado em três grupos distintos: o idoso saudável, ativo e independente; a pessoa que tem alguns “achaques”, não ouvindo bem, por exemplo, mas que arranja pretextos para não fazer nada e torna-se dependente; e o idoso que é realmente doente, está acamado e dependente de terceiros”, referiu Daniel Serrão.
Na sua ótica de cidadão com preocupações sociais pugnando pela qualidade de vida dos séniores, o investigador avançou com uma alternativa: “a assistência social deverá, agora, intervir sobretudo para ajudar o outro a superar a sua situação de inatividade, exercitando-o ou motivando-o a exercitar-se, a mexer-se, e, se puder, a andar, andar, andar”.
Por outro lado, “o Estado deverá ter a obrigação de proporcionar cuidados continuados e paliativos a quem precisa, de facto, de cuidados de saúde por padecer de uma doença grave que o deixa incapacitado para ser independente”, pelo que, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem que existir e ser financiado segundo a regra de “quem tem mais, mais deverá pagar por esse sistema de saúde público”, concluiu Daniel Serrão.