São Pedro de Rates fez uma viagem à Idade Média na passada sexta-feira, 29 de Julho, que teve início na Igreja Românica com uma conferência proferida por Manuel Real, à qual se seguiu um Serão Medieval na Casa do Lavrador.
Numa iniciativa organizada pelo Museu Municipal, o recuo às origens desta vila românica contou com a participação de quase duas centenas pessoas, entre as quais meia centena eram espanhóis.
A presidir às actividades, D. Afonso Henriques, na pessoa de Luís Diamantino, Vereador da Cultura da Câmara Municipal, que deu as boas vindas aos amigos galegos que se encontravam em peregrinação a Santiago de Compostela, pelo caminho marítimo. Aportaram na Marina da Póvoa de Varzim e tiveram a oportunidade de participarem nesta recriação histórica em São Pedro de Rates, explicou. À Vereadora de Vigo, Raquel Diaz, que acompanhava o grupo, o autarca dirigiu algumas palavras manifestando que os nossos vizinhos espanhóis têm sempre as portas abertas e, como tal, “que esta seja a primeira visita de muitos encontros que venhamos a ter”, expressou.
Os representantes das diferentes entidades envolvidas nesta peregrinação marítima do caminho de Santiago também quiseram apresentar publicamente os seus cumprimentos e fazer algumas trocas de ofertas.
Manuel Real, Director do Arquivo Histórico Municipal do Porto e um dos maiores conhecedores da história da Igreja de São de Rates, tomou da palavra e deu uma completa e fundamentada lição sobre aquele que considera ser “um dos monumentos românicos mais emblemáticos em Portugal”. Vários foram os motivos apontados pelo Doutorando em Museologia para esta designação, nomeadamente: pela sua antiguidade e dimensão; por estar ligada ao processo de formação de Portugal; por Rates ser uma via do Caminho Português de Santiago; por ser uma referência no estudo da arquitectura da época românica em Portugal de Manuel Monteiro. Para além disso, Manuel Real referiu que a Igreja de São Pedro de Rates “é uma janela de observação para o Passado e um bom exemplo de escultura popular pela particularidade das esculturas estarem legendadas. As epígrafes são um caso singularíssimo do Românico Português”.
É também um marco do Românico estrangeiro em Portugal porque sendo uma produção de artistas nacionais tem algumas tendências internacionais, designadamente, francesas, informando que “este mosteiro foi doado pelo Conde D. Henrique e D. Teresa, em, 1100, ao Priorado cluniacense de La Charité-sur-Loire, em França. Os franceses eram pessoas bastante cultas. Em Portugal, a escultura é muito simples e quase não tem discurso. A Igreja de Rates fala bastante com ensinamentos do Evangelho. A representação de cenas do Antigo e Novo Testamento é um detalhe da arquitectura do românico em Portugal”, informou.
Para o investigador, “o próprio monumento deixa ver-nos aspectos diferenciados da sua História” e isso permite-lhe concluir que o monumento é anterior ao nascimento de Portugal. Para além disso, “vários documentos da época evocam a existência de Rates”, disse.
“Esta igreja é uma amálgama e está cheia de anomalias”, afirmou Manuel Real referindo diversos aspectos do seu processo de construção e reconstrução e algumas vicissitudes que o justificam.
Depois da conferência, a iniciativa continuou com um banquete com “sabor medieval” servido na Casa do Lavrador acompanhado por música da Idade Média a cargo do grupo “Jogralesca”.
Se não teve oportunidade de participar nesta viagem, não perca a próxima que já sexta-feira, 5 de Agosto. Saiba mais aqui.
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