Decorreu, no passado dia 10 de Junho, o 2º Congresso Internacional sobre Desporto e Saúde na cidade de Santo Tirso. A história deste congresso funde-se com a do projeto que lhe dá vida – o “S. Tirso ComVIDA”.
Este projeto decorre de uma parceria estratégica celebrada entre a Escola Secundária de D. Dinis (ESDD), a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FDUP) e a Câmara Municipal de S. Tirso (CMST), tendo como grande propósito estudar as relações entre crescimento, desenvolvimento e saúde em toda a população escolar, professores, funcionários e famílias dos alunos.
Sobrepeso, obesidade, fatores de risco cardiovascular, atividade física, prática desportiva, saúde óssea e comportamentos alimentares são as grandes variáveis do “S. Tirso comVIDA”. Tudo isto já com dois anos de vida. Sempre com prestação pública “das contas” através da realização de congressos internacionais e apresentação de livros/relatórios que cimentam o que foi feito. Para que a memória não se apague e para que tudo seja público e transparente.
Desde o início que a Associação de Pais e Encarregados de Educação se comprometeu com o estudo, inédito e único no país pela sua abrangência e significado em termos escolares e de íntima relação com as famílias dos alunos. No segundo ano de vida, distintas empresas da região associaram-se ao projeto, para que a sua visibilidade fosse maior, e para que se cumprisse a função social de diversas camadas da sociedade civil.
No passado “Dia de Camões” este projeto quis assinalar a sua presença, comemorando o seu segundo ano de vida. O 2º Congresso Internacional foi o seu “selo” maior. Distintos convidados marcaram presença, entre professores, alunos e muitos participantes.
Eis, em resumo, o que de mais relevante se passou:
Lançamento oficial do 2º livro deste projeto – VIDAS COM SINAL + NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE D. DINIS. RELATOS DE HISTÓRIAS DE SUCESSO.
Neste livro, constituído por oito capítulos “fala-se” do estatuto ponderal e da composição corporal dos alunos; da sua aptidão física; da sua atividade física; da síndrome metabólica; das famílias; dos professores e funcionários, e das perspetivas futuras do projeto. Um terceiro ano já está assegurado pela voz do Exmo. Presidente da Câmara, Engº Castro Fernandes que não quer que um projeto desta dimensão acabe. De facto, S. Tirso já está no mapa da Ciência nacional e internacional.
O convidado internacional foi o Prof. Doutor Peter Katzmarzyk do Pennington Biomedical Research Center dos EUA, um dos investigadores mais prestigiados na sua área de estudo. A sua intervenção abordou os problemas complexos das relações entre obesidade, sedentarismo, fatores de risco cardiovascular e do problema emergente da inatividade física. Sobretudo dos malefícios do excesso de tempo sentado, i.e., do sedentarismo, e da sua implicação na redução da longevidade. Este é um facto bem demonstrado que a inatividade física/sedentarismo são fatores predisponentes para uma diminuição do tempo de vida. De seguida apresentou distintos estudos que mostram, com clareza, que a prática de exercício físico/prática desportiva está positivamente associada à melhoria do desempenho académico. Finalmente realçou o papel importante que o Professor de Educação Física possui no combate aos flagelos do sedentarismo e da obesidade infantil e juvenil.
De seguida o Prof. Doutor António Manuel Fonseca dedicou a sua atenção aos problemas das motivações para a prática do exercício físico, do papel dos pais e dos distintos modos de conceber práticas gratificantes que estejam intimamente ligadas às aspirações dos jovens – atividades gratificantes do ponto de vista pessoal, estabelecimento de relações interpessoais sólidas, desafios de prática, sucesso no que fazem. Se é de “pequenino que se torce o pepino”, há pois que estabelecer e propor programas de intervenção que se dirijam aos jovens e que esta prática se mantenha ao longo da vida. Claro que todas estas atividades devem ser, também, um projeto da própria família.
O Prof. Doutor André Seabra colocou um assento tónico numa nova temática – a do Futebol e Saúde. Partindo do facto do Futebol ser a modalidade desportiva mais praticada no país e da circunstância de ter um conteúdo cultural e social muito importantes, propôs a sua utilização como uma estratégia segura para reduzir o flagelo do sobrepeso e obesidade, bem como de fatores de risco cardiovascular e reestruturação da imagem corporal e alteração de hábitos nutricionais. Mais adiante, na sua intervenção, referiu-se à implementação deste projeto, num programa pioneiro com elevado sucesso, a decorrer no Porto tendo como parceiros a Faculdade de Desporto, a Faculdade de Medicina e o Colégio Clip.
Um dos grandes problemas da adesão ao exercício físico gratificante e pleno de significado pessoal refere-se precisamente ao problema da atração pelas atividades físicas propostas. A Drª Ana Seabra abordou este tema nas crianças, a partir de um projeto também pioneiro no Norte do país, mais concretamente na cidade da Maia. O seu tema procurou conciliar a atração pela atividade física, a perceção de competências das crianças, as influências parentais e a prática factual de atividade física realizada pelas crianças. Contudo, nem sempre a vitória está do nosso lado nesta aventura de estabelecer hábitos de vida mais ativos e saudáveis nas crianças quando se sabe que passam cerca de seis/sete horas na escola, sendo que cerca de 80-90% deste tempo é passado sentado, ou em atividades muito sedentárias.
O Dr. António Ferreira tratou de apresentar um novo desafio na prática pedagógica do Professor de Educação Física ao propor um novo modelo de abordagem da disciplina – o Modelo de Educação Desportiva. Baseado em experiência concreta, bem como na de outros colegas, este modelo estabelece uma adesão enorme à disciplina, implica uma atitude mais elevada e consistente em termos de prática desportiva, responsabilizando alunos na sua prática e no modo como aderem e gerem o seu tempo na própria disciplina. Os relatos de alunos mostram a sua enorme satisfação e elevado significado pela implementação deste método.
O Prof. Doutor Rui Garganta abordou o problema controverso da prescrição de exercício físico face à enorme confusão da sua prescrição desregrada e sem significado por “gente” que não está suficientemente qualificada para o fazer. O que fazer, com que intensidade, duração e frequência, são assuntos “bem quentes” que exigem uma formação sólida e um conhecimento aprofundado dos utentes que recorrem a profissionais habilitados. Mostrou o que não se deve fazer, sobretudo a prescrição insensata de atividades e modalidades que aparentemente são úteis para tudo, mas que não servem para nada.
De seguida teve lugar a apresentação aprofundada dos distintos capítulos do livro pelas Drª Raquel Chaves, Michele Souza, Thayse Gomes, Fernanda Santos e Daniel Santos. Todos ficamos a saber, e com enorme detalhe, dos resultados dos alunos, famílias, professores e funcionários. Indivíduos e grupos de risco foram identificados, ao mesmo tempo que se salientaram as boas e as más notícias de um ano de trabalho intenso em termos de recolha da informação.
Os melhores projetos dos alunos associados ao projeto “S. Tirso ComVIDA” foram salientados, e a todos foi entregue o respetivo prémio.
Finalmente, foi estabelecida uma lista de atividades para o próximo (e terceiro) ano de trabalho:
– Implementar a 3ª fase do projeto com a edição de um novo jornal do projeto e apresentação de relatórios individualizados mais extensos e precisos;
– Construir um programa de intervenção nos alunos de risco que deve ocorrer no próximo ano letivo;
– Estudar aspetos do desempenho académico e suas relações com o exercício físico/prática desportiva e estilos de vida saudáveis dos alunos;
– Realizar um novo congresso internacional – o 3º Congresso sobre Saúde e Desporto que mostre o valor e significado de um projeto que internacionaliza uma cidade pelos melhores motivos;
– Elaborar um livro que conte três anos de história, que mostre o significado dos seus resultados e que marque, vincadamente, o valor de um projeto pedagógico de sucesso que ultrapassa as suas fronteiras.