José Maria Pedrosa, da Universidade de Coimbra, inaugurou, ao final da tarde de ontem, 01 de Maio, o 6º Ciclo de Música Sacra da Igreja Românica de São de Rates, com a conferência “A Música Sacra entre a reforma tridentina e a estética do barroco”.
O palestrante convidado referiu-se ao Concílio de Trento (1545-1563) como uma etapa na história da música sacra, esclarecendo que neste período “a música foi tratada com cuidado, nada se condenou verdadeiramente e pouco se alterou”.
No que se refere à legislação sobre a Música, o Concílio de Trento, basicamente, determinou a “proibição do profano e a inteligibilidade do texto na música”, informou, esclarecendo que a posição dos padres do conciliares era a seguinte: “reformar a liturgia e com ela toda a música litúrgica; sanar o reportório tradicional do cantochão; que fosse banido todo e qualquer ressaibo de profanidade e que a polifonia não impedisse a boa percepção do texto sagrado”. A este propósito acrescentou que “quanto à profanidade, sugeriam a condenação de missas bem como de peças que, de algum modo, evocassem acontecimentos profanos, como o caso da «Bataille de Marignan»; quanto à inteligibilidade dos textos, os padres conciliares estavam a pensar em polifonias dependentes mais da construção técnica do que da expressividade”.
Quanto aos efeitos do Concílio de Trento na Música, José Maria Pedrosa revelou que “houve muitas tentativas de purificar o Canto Gregoriano, no entanto, nunca veio a ser acabada nem aprovada a revisão às melodias gregorianas nem a Reforma da Palestrina concluída”.
Na viragem do século XVI para o XVII, dá-se uma grande mudança: passagem do stile antico para o stile moderno marcado pela introdução de um estilo verdadeiramente Barroco, continuou, expondo que “a modernidade dentro da Igreja operou-se através de uma atitude dupla: por um lado, era preciso adoptar novos meios de comunicação catequética ou moralizante; por outro, era importante que a Igreja se afirmasse com poder convincente”. E sobre este último aspecto, o conferencista explicou que “a Igreja Católica teve necessidade de adoptar algo que fizesse lembrar o triunfo sobre a heresia e sobre o racionalismo emergente das novas realidades científicas e mesmo históricas. Neste sentido, permitiu uma atitude teatral dentro da própria liturgia e na qual a música desempenhou um papel fundamental”. Dá-se, nesta altura, uma inovação religiosa sem precedentes nas práticas litúrgicas europeias através da criação da música espectáculo marcada pela introdução e inclusão do vilancico barroco nas igrejas portuguesas e espanholas, continuou.
O palestrante divulgou ainda as grandes formas musicais que surgem na Liturgia, na chamada Contra-Reforma: Missa, Motetos, Salmos e Hinos, sendo que, em todas, de uma forma ou de outra, se aplica o Baixo Contínuo e se adopta o estilo concertante.
José Maria Pedrosa concluiu que “a música continuou a servir a Fé segundo a medida dos homens” visto que “a Igreja atravessa o tempo e assenta as suas bases na sociedade dos humanos”.
Programa geral do 6º Ciclo de Música Sacra da Igreja Românica de S. Pedro de Rates, de 1 a 29 de Maio:
Na sexta-feira, 6 de Maio, às 21h30, acontecerá o Encontro de Coros Paroquiais com o Grupo Chorus X da Paróquia da Matriz de Vila do Conde, o Grupo Coral do Coração de Jesus da Paróquia de Terroso, Grupo Chorus XI da Paróquia de Aguçadoura e o Grupo Coral da Paróquia de S. Pedro de Rates.
No domingo, dia 8 de Maio, às 18h30, poderá assistir ao concerto “O Magnum Mysterium”, pelo grupo La Farsa, com direcção musical de Luis Toscano. Uma semana mais tarde, no dia 15 de Maio, também às 18h30, assista ao concerto “O Canto Gregoriano no Louvor Cristão”, pelo Coro Gregoriano de Penafiel e com direcção musical de Ana Marjorie Pérez.
De 20 a 22 de Maio, António Mário Costa, da Universidade Católica do Porto e do Conservatório de Aveiro, levará a cabo o IV Curso de Direcção Coral e Técnica Vocal.
No dia 21 de Maio, sábado, às 21h30, José Paulo Antunes, da Universidade Católica do Porto, falará sobre “Os Ministérios da Música na Liturgia Cristã de Hoje. Perspectiva teológica, litúrgica, pastoral e musical”.
No dia 22 de Maio, domingo, às 18h30, o Grupo Vocal “Solo Voces”, com direcção musical de Fernando G. Jácome, apresentar o concerto “Polifonia Ibérica entre os séculos XIV e XVIII”. A fechar o Ciclo, poderá assistir, no dia 29, ao concerto “A Música no cerimonial litúrgico”, pelo Coral Ensaio da Escola de Música da Póvoa de Varzim, sob direcção de Abel Carriço.