Decorreu ontem em Alcoutim uma Jornada sobre Maus Tratos a Crianças, que contou com a participação da Dra. Martine Carapeto, psicóloga clínica e investigadora na área da violência, e do Dr. Luís Villas-Boas, diretor do Refúgio Aboim Ascensão.
A sessão foi aberta pelo presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Dr. Francisco Amaral, que se referiu ao alcoolismo como a génese dos maus tratos a crianças no concelho, acrescentando que “este problema ainda não é tratado a nível nacional como uma dependência”. O autarca relatou o trabalho do Município no combate às dependências, nomeadamente a do alcoolismo, sublinhando que o caminho traçado em Alcoutim é eficaz – a prevenção através da ocupação saudável dos tempos livres, por exemplo o desporto.
Na sua comunicação, a Dra. Martine Carapeto ajudou a audiência a perceber o que são maus tratos, como detetá-los e sinalizá-los, lembrando que a denúncia é uma obrigação moral, social e legal.
Dr. Villas-Boas encerrou a Jornada com o conceito de “Emergência Infantil”, explicando este modelo de intervenção em crianças em perigo na faixa 0-5 anos. Durante a sua intervenção, Dr. Villas-Boas teceu várias críticas aos modelos interventivos vigentes em Portugal, declarando que a atuação tardia, provocada pela má organização institucional e a falta de meios das CPCJ’s (Comissões de Proteção de Crianças e Jovens), é “brincar à proteção”. O diretor do Refúgio Aboim Ascensão em Faro, apontou ainda o dedo ao acolhimento de crianças em Portugal, referindo que “a palavra acolhimento foi prostituída”, no sentido de se estimularem laços afetivos com as crianças [dos 0 aos 5 anos] que depois não podem ser mantidos. “Acolhimento sim, mas a partir dos 6 anos, quando as crianças já podem perceber que aquelas pessoas não lhe pertencem, nem ela a eles”, afirmou o diretor do Refúgio. Claramente descontente com a intervenção realizada no país em casos de maus tratos infantis, Dr. Villas-Boas garantiu que as promessas políticas de seguir o modelo do Refúgio Aboim Ascensão a nível nacional foram feitas, mas a verdade é que até hoje ainda ninguém mexeu nesta área. A adoção foi outro dos temas da sua intervenção, criticando o tempo de espera do casal que quer adotar, perdido burocracias e falta de organização, “em dois dias se avalia uma casal para adoção”, declara, referindo-se ao início do processo de adoção, que chega a levar meses ou anos e que acaba por transformar os centros de acolhimento em “depósitos de crianças”.
Esta Jornada de Maus Tratos a Crianças sensibilizou elementos das CPCJ’s, técnicos de intervenção social, educadores, técnicos de saúde e elementos das forças de segurança, para a necessidade de reconhecer, sinalizar e atuar em situações de risco.
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