Cultura, Póvoa de Varzim

Vencedores de prémios literários e Revista Correntes d’Escritas 10 revelados na abertura do evento – P. Varzim

Decorreu, esta manhã, a abertura oficial do 12º Correntes d’Escritas, no Casino da Póvoa. A sessão ficou marcada pelo anúncio dos vencedores dos quatro prémios literários e pela apresentação da Revista Correntes d’Escritas 10, dedicada a Luísa Dacosta.
Pedro Tamen, com O livro do sapateiro, venceu o Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, e Ana Filipa Cravina dos Reis, que concorreu com o pseudónimo de Ritta Duque, foi a vencedora do Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus com o poema “Esquecimento”. O Concurso Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora premiou os seguintes trabalhos: 1º Lugar: “O Sonho da Violeta” – Turma 15 da Escola EB1/JI de Medo, de Riba de Âncora, Vila Praia de Âncora; 2º Lugar: “Uma Aventura no Castelo de Lanhoso” – Turma 40, do Centro Educativo do Cávado – Monsul, Póvoa de Lanhoso; 3º Lugar: “Uns Peluches Especiais” – Turma A, da Escola EB1 de Cadilhe, Amorim, Póvoa de Varzim. Foram ainda atribuídas menções honrosas aos alunos do 4º ano do Colégio da Arrábida – Azeitão, Setúbal, pelo conto ilustrado “O Planeta Amarelo” e aos alunos do 4º ano da Turma 9 da Escola EB1 de Nogueira, Braga, exclusivamente pelo texto de “O Verdadeiro Natal”. Ana Paula Braga Morais Mateus, que concorreu com o pseudónimo de Anna Sophia Moraes, foi a vencedora do Prémio Fundação Dr. Luís Rainha, com o trabalho intitulado “Sete estórias do vento salgado”. No âmbito deste concurso também foram atribuídas duas menções honrosas: a Pedro Manuel Martins Baptista, que concorreu sob o pseudónimo de Poveiro com o trabalho “Indícios para um cântico poveiro” e a José António Ribeiro de Azevedo, que concorreu sob o pseudónimo de João Semana, com o trabalho “Patrão Lagoa – o sonho de ser Cabo-do-Mar”.
As actas e declarações de voto relativas aos quatro prémios literários estão disponíveis para consulta no portal municipal.
Outro ponto alto da sessão foi o lançamento da Revista Correntes d’Escritas 10, dedicada a Luísa Dacosta, uma “poveira de coração”, que recordou a primeira vez que foi homenageada no Correntes d’Escritas, “graças ao meu amigo Manuel Lopes” que lhe dedicou um artigo. A escritora e professora lamentou o facto de, por vezes, a sua literatura não ser bem compreendida e, a este propósito, leu um texto da sua autoria já publicado. No artigo, intitulado “Autobiografia: Ego, alter-egos e outras alteridades na minha obra”, Luísa Dacosta afirma “toda a minha obra é antes de mais autobiográfica”, referindo-se aos diversos géneros em que já escreveu, quer seja Conto, Diário, Crónica ou Poema, “todo o cariz autobiográfico dessas obras é ainda acentuado pelos prefácios, sempre escritos por mim e pelas mitologias, criadas para alguns desses livros”. “A autobiografia espelha-se, mesmo e ainda, na literatura para a infância e, também, nos prefácios ou posfácios e nos próprios contos”, acrescentou. Luísa Dacosta continuou esclarecendo que “em todas estas obras, cujo cariz autobiográfico foi acentuado, não trata apenas de ego e alter-ego. Há outras alteridades. Umas criadas por simpatia e outras são feitas por caricatura, cruel. Mas a maioria das minhas alteridades foi feita por simpatia. E antes de mais com as mulheres de A-Ver-o-Mar. Depois da minha mãe, devo às mulheres de A-Ver-o-Mar a língua, na sua criatividade, e ao rés do coloquial. Foram também alteridades minhas os velhos pescadores e outros velhos.” A homenageada concluiu referindo que “a minha escrita, porém apela ainda a alteridades mais abrangentes, até por ser uma escrita fragmentária. Apela ao preenchimento de espaços por leitores interessados, que queiram sentir-se participantes, aduzindo as suas próprias experiências e a isso levados por uma poeticidade, envolvente, a tentar tornar-se ninho, acolhedor, de outras alegrias, mágoas e angústias.”
Em representação dos escritores, Eduardo Lourenço referiu que era “uma honra e prazer” estar uma vez mais nesta cidade e a participar neste evento que definiu como “um fenómeno cultural que vai fazer agora doze anos e continua a ser uma referência no panorama português porque é um sítio privilegiado de reunião e concentração de escritores da nossa língua, do espaço lusófono”.
No encerramento da sessão, José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal, manifestou a sua preocupação pelo mundo da cultura em momentos de crise. Referindo-se à desigualdade na distribuição de rendimentos no nosso país, o edil afirmou que “o sistema que produziu estas desigualdades desloca-se e transforma-se, mas não morre – ao contrário das suas vítimas”.
O autarca continuou a sua reflexão, “mas onde está verdadeiramente a raiz do mal que tanto afecta as nossas economias e as nossas sociedades? Na Ética – ou, melhor, na falta dela na nossa vida quotidiana (na política, na economia, no comportamento individual e social). Aliás, a ética é, em si mesma, condição da nossa concidadania, pelo que viver eticamente, sendo o mais difícil, seria o mais natural e necessário. É que sem ética resta apenas a lei e o seu manancial de sanções”.
A prevalência das emoções e das fruições, o prazer imediato, a “ideologia do eu”, a urgência consumista de ter tudo “já” foram os motivos enunciados por José Macedo Vieira que nos conduziram a esta “situação trágica de total insustentabilidade” e sobre “como sair disto, deste caminho aparentemente sem saída?”, o Presidente afirmou “as receitas conhecemo-las todas, menos uma: a daqueles que, nos livros, constroem utopias, vivem um mundo paralelo, desenrascam sempre uma saída para as suas personagens”.
“Chegou a hora de construirmos novas utopias. Sem utopias não há futuro”, disse, acrescentando que “esperança e novas doutrinas definirão o modelo no qual estamos condenados a viver nos próximos anos”.
O Correntes d’Escritas continua, durante a tarde, com a Conferência de Abertura, proferida por Laborinho Lúcio, às 15h30, no Auditório Municipal, à qual se segue a primeira mesa que reúne Aida Gomes, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Fernando Pinto do Amaral, Maria Teresa Horta e Ricardo Menéndez Salmón para debater perante o público o tema: “Falta futuro a quem tem no presente as ambições/ passadas”. O verso é de Armando Silva Carvalho, autor de uma das obras finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa, e serve de ponto de partida para a mesa moderada por José Carlos de Vasconcelos.
Acompanhe todos os momentos do Correntes d’Escritas no portal municipal, em www.cm-pvarzim.pt/go/correntesdescritas

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