Decorrem, no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, as III Jornadas Sociais Intermunicipais, uma iniciativa conjunta dos municípios da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde que anualmente alterna o local de realização.
Estiveram presentes na sessão de abertura José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Elisa Ferraz, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, e Manuel Albano, Vice-Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, em representação da Secretária de Estado da Igualdade.
Antes de se referir ao tema do encontro, José Macedo Vieira salientou o facto da organização destas Jornadas ser de “dois municípios vizinhos, duas realidades sócio-económico-culturais muito próximas, duas estratégias sociais de intervenção com componentes seguramente semelhantes. É, portanto, do mais elementar bom-senso que técnicos, cidadãos e políticos de ambos os municípios se encontrem para partilhar experiências, questionar metodologias, perspectivar soluções”.
Quanto à temática – “A violência na família” –, o autarca poveiro referiu que “é, como infelizmente sabemos, a mais actual: não há dia em que a comunicação social nos não confronte com a notícia de agressões físicas, violências psicológicas e, para cúmulo, a morte de (um ou mais que um) membro do casal ou do agregado familiar”. “A violência doméstica, esse monstro que coabita com muitas das nossas famílias, passou, nas últimas duas décadas, de assunto-tabu para causa pública e crime público”, acrescentou.
Neste sentido, José Macedo Vieira lembrou que o facto de este fenómeno se tornar público “despertou nas nossas comunidades a consciência de que, por estar em casa e em risco o futuro de menores, os problemas da violência extravasam o restrito núcleo familiar e são, de direito e de facto, problemas da comunidade. A atenção da comunidade a estas situações é, de facto, entre nós, um fenómeno novo, pelo menos com o interesse que hoje constatamos”.
O autarca constatou ainda que “os números de queixas por actos de violência no seio da família não param de crescer – e o número de mortes directamente atribuíveis a este flagelo também não”.
Consciente de que “a sociedade do futuro será socialmente mais instável e emocionalmente mais perturbada”, o que fará com que o número de situações potenciadoras de violência aumente, José Macedo Vieira acredita que “a vigilância cidadã sobre as situações de risco, e a pedagogia da não-violência, operem a mudança civilizacional que nos confirme, de facto, como uma sociedade de brandos costumes”.
Eliza Ferraz também começou por realçar a importância desta acção estar a ser feita em parceria porque “em conjunto potenciamos o trabalho que fazemos e se trouxermos à discussão temas actuais estamos a contribuir positivamente para o nosso desempenho perante situações do dia-a-dia”.
Sobre a temática abrangente que é objecto destas Jornadas, a autarca referiu que “preocupa a todos” e “quando falamos de violência subentende-se doméstica” e a esta está arreigado na nossa sociedade o velho preceito popular: «entre marido e mulher, ninguém meta a colher». E, ao sustentarmos esta ideia de que não nos devemos meter porque o problema é das pessoas que nele estão envolvidas e que com o tempo tudo se resolve, a verdade é que a situação agudiza-se e, por vezes, acaba em morte, alertou.
Eliza Ferraz afirmou que “esta é uma problemática que atravessa todas as faixas etárias da nossa sociedade” e daí a “preocupação em trazer em leque alargado de temas que diz respeito a todos que de certo modo estão fragilizados”. “Temos que estar atentos, prevenir e denunciar”, concluiu.
Em representação do Estado, Manuel Albano congratulou os municípios vizinhos pela organização conjunta das Jornadas Sociais e referiu-se à importância da iniciativa na definição dos territórios e aproximação dos mesmos. O Vice-Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género informou que “muito foi conquistado” e “houve um avanço significativo” no que se refere à legislação e acções para garantir respeito, igualdade e implantação de valores democráticos que garantam a diminuição de discriminação em função do género, combate à violência e protecção à vítima.
“Sem uma acção multidisciplinar, o combate a este flagelo nunca será eficaz”, concluiu Manuel albano.
Os trabalhos estão a desenvolver-se a partir de dois painéis, “Na Gestação da Violência – Sonhos versus Pesadelos” e “Violência sem Idade – Memórias e Experiências”, e têm vários objectivos: incentivar as denúncias de situações de violência doméstica, promover um espaço de reflexão sobre a temática, sensibilizar os técnicos e profissionais da área e criar na população um sentimento de intolerância e rejeição.
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