Emília Nóvoa Faria foi a convidada do Arquivo Municipal para a “conversa” do mês de Novembro, ontem à tarde. “A Monarquia do Norte na Póvoa de Varzim” foi o assunto tratado pela engenheira e escritora que destacou duas figuras protagonistas deste movimento: António Vicente Leal Sampaio e António dos Santos Graça.
A conferencista identificou 1917 como o ano que marca o início das hostilidades entre Leal Sampaio, republicano convicto, e Santos Graça, monárquico incondicional, “dois homens que o souberam ser no verdadeiro sentido da palavra”. Em Maio de 1918, Leal Sampaio toma posse do cargo de juiz na nossa cidade e a sua relação com Santos Graça não é a melhor, “estavam desavindos e de costas voltadas”, informou.
A Monarquia do Norte, revolta ocorrida na cidade do Porto, em 19 de Janeiro de 1919, pelas juntas militares favoráveis à restauração da monarquia em Portugal, foi proclamada na Póvoa de Varzim um dia depois, segunda-feira, 20. Emília Nóvoa Faria deu a conhecer o ambiente em que decorreu esta insurreição, recorrendo aos relatos noticiados nos periódicos poveiros: O Comércio da Póvoa (jornal republicano, que foi suspenso durante este período); O Liberal e Estrela Povoense.
A 31 de Janeiro, o Conde de Mangualde nomeou David Alves como Presidente e o Padre Manuel Ribeiro Pontes como Vice-Presidente e a 5 de Fevereiro teve lugar a primeira reunião da comissão administrativa na qual se procedeu à distribuição dos pelouros e foi também discutida a toponímia. Aliás, a toponímia foi uma das grandes guerras entre monárquicos e republicanos, havendo ruas que mudaram de nome em função do regime político em vigor.
A 13 de Fevereiro de 1919 foi o fim da Junta Governativa do Reino, acontecimento que O Comércio da Póvoa noticia a 20 de Fevereiro de forma entusiasta, “tendo em conta que esteve silenciado durante algum tempo, o jornal tem agora necessidade de colocar no papel tudo o que sentiu e fá-lo de forma até violenta”, comunicou Emília Nóvoa Faria, referindo ainda o aviso que o periódico fez para que as bandeiras da Monarquia fossem entregues.
Em Abril, Leal Sampaio é suspenso do exercício das funções e em Maio Santos Graça é eleito Deputado pela maioria do Círculo Eleitoral de Santo Tirso (ao qual pertencia a Póvoa de Varzim), suspendendo, por esse motivo, as suas funções de Chefe da Secretaria da Câmara da Póvoa de Varzim, até Junho de 1920. Entretanto, Leal Sampaio é nomeado juiz da 1ª Vara do Porto e tem em mãos um processo no qual Santos Graça está envolvido a propósito da falência da fábrica de tecidos “A Poveira”. “Santos Graça está nas mãos de Leal Sampaio”, contou Emília Nóvoa Faria, informando que o juiz foi imparcial e declarou Santos Graça como inocente. É a partir desta altura, que estes dois homens começam a perceber que “era mais o que os unia do que o que os separava”, continuou. Em Março de 1939, num jantar de homenagem a Santos Graça organizado pelo Clube Naval Povoense, este faz questão de sentar à sua direita o desembargador Leal Sampaio e, posteriormente, escreve-lhe uma carta a agradecer a sua presença e oferece-lhe um exemplar de A Epopeia dos Humildes com uma dedicatória onde pode ler-se “alma generosa e boa a quem devo eterna gratidão”.
Estes episódios ilustram bem a integridade de dois homens que Emília Nóvoa Faria designou como “figuras exemplares da história da comunidade poveira”.
“À quarta (h)à conversa” é uma actividade dirigida ao público sénior e apresenta, todos os meses, diferentes temas ligados à história local. No mês de Dezembro, José de Azevedo, Fernando Linhares e Carlos Mateus irão falar sobre “A evolução do comércio na Póvoa de Varzim”.