A República Educadora foi o tema da conferência proferida por António Nóvoa ontem à noite, 13 de Setembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal.
O especialista em História da Educação fez uma análise cronológica do estado da escola em Portugal que dividiu em três fases: 1890 a 1910 – O chapéu da moda; 1910 a 1926 – Período da I República e 1910 a 2010 – Cem anos de República.
Segundo António Nóvoa, no primeiro período vários países começam a construção do modelo escolar contemporâneo, movimento no qual Portugal marca presença. Esta altura coincide com o movimento de produção de estatísticas internacionais que comparam os diversos países e começa a tornar-se muito nítido o discurso do atraso educacional em Portugal nos finais do século XIX e a ideia de que a Monarquia quer o atraso e o analfabetismo das pessoas. A este propósito, o orador referiu o enorme impacto causado pelo Manifesto de 1897 de Benardino Machado onde é dito que “dos cinco milhões de habitantes que constituem a população portuguesa, quatro milhões vivem na mais sombria ignorância: são analfabetos. Tudo isto é mais do que uma vergonha, é um verdadeiro crime”. É neste debate, na transição do século XIX para o século XX, que o sentimento se torna num debate político, afirmou António Nóvoa, acrescentando que a falta de instrução é apontada como causadora de todos os males sociais. Neste sentido, o orador citou António José de Almeida que defendia que “à Monarquia convém a ignorância. A Monarquia dá-se bem com a ignorância e a degradação intelectual do povo. Só a República poderá dar instrução ao povo, fazendo cidadãos, essa é a matéria-prima de todas as pátrias”.
Sobre o período da I República (1910-1926), António Nóvoa disse que “introduziu Portugal na Modernidade educativa”. Criou um sistema escolar comparável ao dos outros países europeus mas os seus resultados e realizações ficaram muito aquém do que havia sido sonhado e prometido, informou, acrescentando que “é este talvez o drama da nossa educação: voluntarismo a mais e concretizações a menos”. Este período é marcado por uma convicção fortíssima dos republicanos de que o homem vale sobretudo pela educação que possui e é na escola primária que verdadeiramente se há-de formar a alma da pátria republicana. Na luta contra o analfabetismo são criadas, nesta altura, as Escolas Móveis que iam pelo país procurar alfabetizar as pessoas. No entanto, esta iniciativa não deu grandes frutos tendo em conta que “no início da I República havia 69% de analfabetos e em 1930 esse número tinha reduzido somente para 62%, ou seja, em cerca de 20 anos, só houve uma redução de 7% na taxa de analfabetização”. Perante estes números, os republicanos sentem-se profundamente desiludidos com o resultado da sua acção. Outra desilusão prendeu-se com a inclusão da escolaridade obrigatória (5 anos) e ensino primário superior (8 anos) pois “no final da I República apenas uma em cada três crianças frequenta o ensino primário geral e apenas 2% estão inscritas na 4ª classe”. Consciência social, cidadania e associativismo marcam este ciclo republicano.
António Nóvoa definiu os cem anos da República como: “cem anos de esforços para conseguir que todas as crianças e jovens tenham acesso à escola”; “cem anos de esforços para conseguir inscrever uma cultura letrada, uma cultura escolar num país avesso ao conhecimento e à ciência”; “cem anos de esforços para criar infra-estruturas e condições, materiais e profissionais, para o desenvolvimento da escola”. A propósito, o orador citou Agostinho Campos: “a realidade impõe-se ao sonho, ao ideal, mas não passa ao querer”. E lembrou António Sérgio, que já em 1918 referia a “plasticidade do português que foi capaz de se adaptar a tantas culturas” mas, em contrapartida “tem dificuldade em lidar com a cultura escolar”. Uma citação que obteve acordo por parte de José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, que atribuiu à genética e à idiossincrasia do povo português a característica inata de “não ter perseverança” e ser quase que incapaz de dar continuidade aos seus projectos. “O nosso comportamento e resultados depende muito daquilo que somos”, concluiu o autarca.
A iniciativa integra-se num Ciclo de Conferências organizado pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e pelo “O Comércio da Póvoa de Varzim” que teve início no dia 15 de Junho com Mário Soares e termina a 5 de Outubro com João Marques.
O Ciclo de Conferências insere-se na programação de Comemorações, na Póvoa de Varzim, que assinalam o Centenário da Implantação da República. “Na Maré da República”, título das Comemorações na Póvoa, arrancou oficialmente em Fevereiro, altura em que foram apresentadas algumas das actividades previstas e anunciado o sítio oficial do evento.
No sítio das Comemorações está disponível informação sobre as Comemorações na Póvoa de Varzim, com a Agenda Local, em constante actualização, a apresentação dos vários parceiros, uma área para actualizações noticiosas, entre outros. Disponibiliza ainda informação sobre a República na Póvoa de Varzim, apresentando a cronologia local, a toponímia, os Rostos da República, a imprensa e imagens da época. Dando uma visão global, o sítio tem também uma área sobre informação a nível nacional, disponibilizando conteúdos sobre a Bandeira e o Hino Nacionais, a 1ª Constituição da República, entre outros.
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