De festa celebrada a nível familiar, o S. Pedro é hoje a Festa da Póvoa de Varzim. Milhares de pessoas acorrem anualmente à cidade para participar nos festejos que têm o seu ponto alto na noite de 28 para 29 de Junho. Por isso, “Como os poveiros festejaram o S. Pedro” foi o tema de “À quarta (h)à conversa” de ontem, no Arquivo Municipal.
“A cidade já cheira às fogueiras e às sardinhas de S. Pedro” notou Armando Marques, antigo chefe do Serviço de Turismo da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e o palestrante convidado da sessão. Este começou por recordar que até 1962 as festas de S. Pedro, assim como as de Santo António ou de S. João eram comemoradas pelas famílias poveiras, consoante houvesse algum membro que partilhasse o nome próprio com um destes Santos Populares. No entanto, já o Clube Naval Povoense tinha o hábito de comemorar o S. Pedro com uma “guerra” de pequenos foguetes que eram lançados não na vertical, mas sim na horizontal.
É em 1962 que uma comissão, presidida por Rogério Viana, organiza as primeiras Festas de S. Pedro na cidade. “Este primeiro ano de festa foi marcante. Todos os poveiros que assistiram em 62 acharam que esta primeira celebração foi ainda melhor que a de 63, em que esteve presente Américo Tomás, à data Presidente da República”, recordou Armando Marques, que enquanto Chefe do Serviço de Turismo, fez também parte da Comissão organizadora das Festas.
Logo nos primeiros anos as Festas de S. Pedro foram ganhando uma organização que ainda hoje se mantém, tendo como elementos centrais a Procissão, que sai no dia 29, os tronos, que cada um dos seis bairros constrói, as rusgas, a sardinha assada, o vinho, a broa, as fogueiras. A estes juntam-se outros como exposições, exibições de grupos folclóricos e musicais, eventos desportivos e, claro, o fogo-de-artifício. Prova disso, são os inúmeros programas, cartazes e documentos que o Arquivo Municipal expôs para esta sessão, numa mostra que estará patente até ao final das Festas de S. Pedro e que dá uma clara retrospectiva das Festas de S. Pedro na cidade.
Característica única da Póvoa, “as Festas de S. Pedro nunca podiam ser iguais de ano para ano, tinham sempre que ter algo de novo”, contou Armando Marques. E deu alguns exemplos. Assim, em 62 e 63 foi organizado o Cortejo do Mar, “evento que lançou as Festas de S. Pedro da Póvoa na comunicação social nacional” e que reuniu centenas de pessoas, em representação de todo o litoral de Portugal. Foi também em 62 que a Procissão incorporou os três Santos Populares, tradição mantida ainda hoje. Naquele ano, o andor de Santo António foi levado por Frades Franciscanos, o de S. João por estudantes e o de S. Pedro por pescadores poveiros, envergando as típicas camisolas de lã. No entanto, em 1975, “os três Santos zangaram-se”, brincou Armando Marques, e na Procissão foi só o andor de S. Pedro.
Em 1963 Américo Tomás foi o convidado de honra e teve mesmo direito à oferta de uma pescada, oferecida pela conhecida Susana Peixeira. Foi também organizada a Festa do Mar na enseada do Porto de Pesca, em que foi colocado um estrado de madeira no areal, junto à “língua da maré” e, no mar, encenados aspectos da vida dos pescadores poveiros. Em 1965 os arcos das festas de todas as freguesias da Póvoa foram montadas no Largo do Passeio Alegre e nos três anos seguintes, 66, 67 e 68, não houve festas oficiais de S. Pedro, um interregno que se deveu à crise que na altura afligia o país. Ainda assim, em 1970, as festas ficaram marcadas pela contenção de despesas, limitando-se a Câmara Municipal a atribuir oito contos, hoje cerca de 40 euros, a cada bairro para a instalação das iluminações.
O Dia da Sardinha, em 1971, em que os restaurantes apostaram em pratos como a sardinha assada e o arroz de sardinha como forma de promover a cozinha poveira, a inclusão dos Oragos de todas as freguesias, excepto Beiriz, na Procissão de 1972 e a declaração do dia 29 de Junho como feriado municipal, em 1973, foram outros elementos marcantes na história das Festas de S. Pedro.
Armando Marques recordou ainda o ano de 1979, que marcou o início do festival FolkVarzino, com a participação de grupos folclóricos de todo o país.
Nesta primeira edição, o festival contou com apresentação de Fernando Rocha, na altura locutor da Rádio Renascença, e o evento mereceu ainda cobertura por parte da RTP. Foi ainda organizado um Concurso de Tricanas em 1984 e em 1985 um Festival da Juventude e um Desfile de Fanfarras.
No início dos anos 80, com a colaboração de Manuel Lopes, saudoso director da Biblioteca Municipal, foi organizada uma exposição de siglas poveira, amplamente elogiada e também galardoada, tendo sido exibida em várias cidades portuguesas e estrangeiras.
Estes foram tempos marcantes, em que até a Emissora Nacional, hoje Antena 1, tinha o hábito de transmitir em directo a noitada de S. Pedro. E devido à constante preocupação em inovar o programa de festas, a imaginação da Comissão Organizadora levou mesmo a que fosse organizado, em dois anos consecutivos, um concurso de “charlatães”, que puseram à prova a sua capacidade de ludibriar a multidão ainda que, de acordo com o regulamento, não lhes fosse permitido vender nenhum dos seus produtos.
Esta conversa foi, assim, um excelente aperitivo para as Festas de S. Pedro que se aproximam e um incentivo à manutenção das tradições que fazem desta uma celebração tão estimada entre os poveiros, explanada na forma como decoram as suas varandas com motivos piscatórios, como partilham sardinhas assadas, vinho e broa, com as “gentes de fora” que vêm assistir à festa, como incentivam as rusgas do seus bairros na hora das suas actuações e desfiles, envergando orgulhosamente as suas cores.
Este ano, e porque a Festa não pode fugir à regra, o programa apresenta várias novidades e começa já no dia 25, terminado a 4 de Julho. Veja como a Póvoa vai celebrar o S. Pedro no portal municipal.
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