Se o dinheiro não fosse problema, a Póvoa de Varzim poderia inspirar-se nas propostas arquitectónicas que 13 alunos finalistas do Curso de Arquitectura da Universidade Lusíada elaboraram no âmbito do seu Mestrado. Os resultados foram apresentados na passada sexta-feira, com a exposição “Estratégias Urbanas”. Habitações amigas do Ambiente, a reorganização da Marina e Porto de Pesca, a construção de um Museu do Pescador, um Centro de Congressos ou um Fórum são exemplo dos exercícios apresentados, e que estarão patentes na Biblioteca Municipal até 29 de Maio.
Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, elogiou as “ideias inovadoras” apresentadas, sendo que algumas delas, considerou, vão de encontro aos desejos do município. É o caso do Museu do Pescador, ou do Mar, há muito desejado para a Póvoa de Varzim. E se na exposição este Museu aparece situado junto à Praça de Touros, numa localização que obrigaria à demolição das instalações da Varzim Lazer e do Estádio do Varzim S.C., Luís Diamantino referiu que, com a deslocalização da Fábrica Conserveira Poveira para Laundos, “surgiu ali um espaço magnífico” que pode ser aproveitado. “Esta ideia tem pernas para andar”. O Vereador defendeu ainda que “o conhecimento do lugar é importante, sempre foi na arquitectura, mas o das pessoas, de quem habita o lugar, também”. Um cuidado que encontrou no trabalho exposto. “Há também esse conhecimento do que se passa aqui. O arquitecto tem que estar atento ao que se passa em seu redor e verifiquei isso neste trabalho, pois vejo ali o que são os nossos sonhos, o que esperamos para o futuro”. E considerando que a Arquitectura é “uma arte”, equiparou os arquitectos a cirurgiões. Mas pediu a todos os futuros arquitectos presentes que não se deixassem ficar pela “cirurgia plástica”, antes apostando em ir mais além do que o superficial.
Fernando Mariz, Director da Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade, elogiou a “dinâmica muita forte” da Póvoa de Varzim, uma cidade em constante mudança mas que nunca deixa de ser a Póvoa de Varzim. “Esta constante reformulação das cidades atira-nos para momentos como este. A formação não tem de terminar na sala de aula. Sempre defendi que é preciso haver uma relação entre a comunidade científica, a universidade e as instituições que estão no terreno e, assim, os estudantes, apoiados pelos docentes, motivam-se mais facilmente para estas tarefas teórico-práticas. Os resultados estão aí. Algumas propostas não são muito fáceis de concretizar mas o Homem sonha, a obra nasce”.
Já Jorge Barbosa, Regente da Unidade Curricular de Projecto III, 5º ano, variante de Arquitectura, explicou que a escolha da Póvoa como alvo deste projecto deve-se ao reconhecimento do potencial que a cidade tem, “um diamante por polir”. Contou também que os alunos elaboraram uma análise SWOT, identificando as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades na Póvoa de Varzim. A partir daí foi definida uma linha de orientação e diagnóstico, que culminaram com estas treze propostas.
Três delas foram apresentadas pelos seus autores, sendo antecedidas por um pequeno filme com o título “Póvoa de Varzim, o espírito do lugar”. Vídeo e fotografia, que retratavam as muitas vivências da Póvoa de Varzim, serviram para defender os “componentes materiais e imateriais do espírito de um lugar” que devem ser tidos em conta.
Carlos Fraga apresentou o seu projecto, concentrado na marginal sul. A sua estratégia de intervenção parte do Porto de Pesca e pretende “devolver à Póvoa a sua identidade adormecida, a da pesca”. Segundo o seu projecto, a Via B funcionaria como base para a indústria conserveira e para o comércio, aproveitando os vazios urbanos para a promoção dos produtos hortícolas. A Linha de Metro seria prolongada, de forma a servir a Via B, a zona histórica e o Pólo de Amorim. Na zona da Marina e Porto de Pesca surgiram novos espaços de diversão, entre restaurantes, bares, discotecas e ainda um hotel. E seria criado um novo edifício, cuja arquitectura se assemelharia à Lancha Poveira e que serviria como local de passeio e também de manifestações religiosas já que um altar seria construído propositadamente para receber Nossa Senhora da Assunção, padroeira dos pescadores e que é comemorada a 15 de Agosto.
Miguel Moniz apresentou a sua proposta para a criação de casas para pescadores, inspirando-se na arquitectura simples das casas actuais. Mas a sua proposta vai mais longe, ao prever a demolição das instalações da Varzim Lazer, junto à praia, e do Estádio do Varzim S-.C., “empurrando” toda a construção para a zona da Praça de Touros. Ali, e numa homenagem às famílias dos pescadores, criaria um Museu do Pescador cuja fachada se assemelha às redes. E no exterior, um conjunto de “lâminas” que irrompem do chão simbolizariam o “choro das mulheres”. “A minha intenção é que a Póvoa de Varzim criasse uma marca de cidade e estes edifícios ajudam”, considerou.
Por último, Vítor Tinoco trabalhou o limite urbano da cidade, criando vários parques de estacionamento que serviriam de apoio à Ciclovia que aproveitaria a antiga linha férrea para Famalicão e atravessaria toda a cidade. O seu projecto inclui ainda a criação de hortas urbanas e a criação de quarteirões habitacionais no vazio urbano existente nas proximidades do Estádio do Varzim S.C.. Estas habitações teriam como marca diferenciadora o facto de serem “amigas” do ambiente, devido à importância dada à criação de espaços verdes e à instalação de equipamentos para captar energias renováveis, como painéis solares.
Em exposição está também uma maqueta, à escala, da Póvoa de Varzim, onde estão identificados os vários pontos de intervenção de desenvolvimento e revitalização urbana trabalhada pelos alunos. Num gesto de agradecimento, esta maqueta foi oferecida ao município.