Mar por Meio é o título das décimas sextas jornadas culturais organizadas pela vila de Riabadeo, na Galiza, no norte de Espanha, dedicadas, desta vez, à cultura portuguesa, entre os dias 17 e 19 de Outubro.
No ponto mais distante de Portugal desta região espanhola (a cerca de 300km da fronteira com Valença), políticos e outros agentes sociais reuniram-se durante o fim-de-semana para reflectir e perspectivar as relações entre a Galiza e Portugal no sentido de ‘construir um espaço comum de comunicação e cultura’.
A Póvoa de Varzim esteve presente, através do Vereador da Cultura, Luís Diamantino, para a apresentar o seu invulgar exemplo e contributo ao nível da promoção e relação cultural entre as duas comunidades, isto é, pela produção anual do Correntes D’Escritas, a ‘festa da literatura’, que em Fevereiro de 2009 completa 10 anos, e constitui, talvez o maior e melhor desafio às línguas de ambos os países.
Ribadeo, tal como a Póvoa de Varzim, tem o mar como meio fundamental de experiência, de aproximação e encontro de culturas e dos povos que as representam. Os seus promotores procuram, de cada vez, ‘achar’ novas fórmulas de envolvimento e interesse colectivo para o progresso das populações.
Luís Bará, Conselheiro da Cultura e do Desporto da Junta da Galiza – Governo Regional – preconiza que deveríamos caminhar para a promoção de um Fórum regular de discussão, avaliação e promoção cultural; para a implementação de plataformas de divulgação da programação cultural; para o intercâmbio de artistas e para a mobilização dos meios de comunicação, como por exemplo a realização de um protocolo de divulgação entre as televisões públicas da Galiza e de Portugal. Aliás, no seu entender, a tónica na comunicação é essencial para o florescimento da consciência de um espaço comum, além de um investimento claro na divulgação da língua.
Os cerca de 80 participantes, provenientes de vários lugares da Galiza e de Portugal (Porto, Guimarães, Póvoa de Varzim, etc) passaram três dias em reflexão sobre a cooperação cultural e institucional, perspectivando um trabalho no presente e no futuro, sobre a cultura do mercado entre a Galiza e Portugal e a necessária construção de uma ponte informativa entre dois lados. Para além de uma exposição etnográfica, ‘Galiñas, míserias e cabezudos’ e um concerto, que juntou Fran Pérez, da Galiza e Manecas Costa, da Guiné Bissau , e que demonstrou como se pode fazer a ligação entre os dois espaços culturais, houve lugar também para apresentação de espaços dinâmicos de programação e de projectos culturais emergentes.
Nesse sentido, o Correntes D’Escritas surge como espaço privilegiado de contacto e desenvolvimento, não só para a cidade, tornando-a mais competitiva sócio-culturalmente, mas também para todos os que nele participam, pelos desafios e oportunidades.
Luís Diamantino, aproveitou a sua intervenção para convidar todos a visitarem a Póvoa de Varzim na próxima edição, em que se comemoram os 10 anos de actividade, de 11 a 14 de Fevereiro de 2009, para viverem e confirmarem o empreendimento cultural que vem sendo realizado e que favorece a formação dos diferentes públicos face ao livro e à leitura, em expressões diversas como a música, a poesia, o teatro e em especial na relação directa com os próprios escritores. Durante aqueles dias , centenas de pessoas estabelecem relações singulares entre si, de trabalho, de cooperação e amizade. Com o Correntes já aportaram na Póvoa de Varzim, mais de 300 escritores (10 da região da Galiza) de 19 países e efectuaram-se 170 lançamentos de livros em primeira mão . ” O Correntes D’Escritas é uma referência nacional e internacional, temos consciência disso ” , referiu o vereador, ” confirmando o desígnio estratégico do concelho, o esforço necessário para continuar a criar e a inovar, na certeza de que o livro continuará a ser o protagonista principal ” .
Tão perto, mas simultaneamente tão longe, a reflexão apontada no texto de abertura das jornadas e confirmada durante o de fim-de-semana, é o que todos pretendem contrariar numa tentativa de trabalho em conjunto. A proposta dos organizadores aponta no sentido de que os dois pólos culturais, Portugal e Galiza, combatam o desconhecimento quotidiano. Apesar da proximidade física, da língua e de uma história partilhada, a verdade é que persistem barreiras administrativas e culturais, como sejam as relações aglutinadoras de Lisboa com Madrid, e vice-versa, entre outras, que praticamente não deixam espaço para uma relação mais próxima e duradoura Portugal-Galiza. Há que aproveitar as oportunidades conduzidas pelas novas infra-estruturas viárias, que se traduzem, segundo dados estatísticos recentes (2008), num fluxo anual de mais 26 milhões de veículos, sendo que mais de 43 mil fazem-no, diariamente, para ir trabalhar de um para o outro lado da fronteira, para aproximar, cruzar e incluir no imaginário de ambos essa verdadeira proximidade cultural na expectativa de que amanhã, Portugueses e Galegos, quando se deslocarem em ambos os territórios não se julguem em país estrangeiro mas num espaço comum de cultura e comunicação. Esse é o maior desafio.
Precisa de calçado ortopédico verifique na Lola