O Presidente da Câmara Municipal, Dr. Guilherme Pinto, visitou no dia 12 de Junho uma das mais importantes estações arqueológicas da época romana do Norte de Portugal e, por isso, declarada Monumento Nacional, localizada no Complexo Arqueológico de Angeiras, a Sul da Avenida Marginal, junto à Praia do Funtão.
A intervenção realizada no âmbito desta obra permitiu já identificar alguns tanques e estruturas inéditas, para além de ter colocado à vista outras estruturas já detectadas em intervenções anteriores, realizadas em 1983 e 1994. Nestas destaca-se um tanque de grandes dimensões, pavimentado com pequenos seixos, destinado presumivelmente à produção de sal.
Por motivos da acção cíclica das marés, assim como por motivos de conservação das estruturas arqueológicas, elas serão novamente aterradas após a conclusão dos trabalhos de colocação dos referidos passadiços. No entanto, serão colocados painéis informativos no local, sobre a presença e importância destas estruturas, e será implantada uma réplica dum dos núcleos de tanques existentes neste local.
Dada a importância do património arqueológico já referenciado na área de implantação dum passadiço na orla costeira, o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) condicionou a sua aprovação à realização dum estudo prévio de avaliação do impacto da obra sobre o património arqueológico.
No âmbito deste estudo, foi considerada fundamental a realização de sondagens arqueológicas nas áreas afectadas pelo projecto, principalmente nas zonas onde já se presumia a existência deste tipo de vestígios arqueológicos.
Durante esta visita, na qual marcou também presença o Vereador Fernando Rocha, responsável pelo Pelouro da Cultura, Joel Cleto, Chefe da Divisão de Promoção Cultural e Museus, foi fornecendo informações mais detalhadas sobre a forma como estão a decorrer os trabalhos.
Enterrada sob as areias da praia de Angeiras, localiza-se uma das mais importantes estações arqueológicas, de época romana, do norte de Portugal e por isso declarada Monumento Nacional (Decº 251/70 de 3 de Junho).
Trata-se de um magnífico exemplo da arquitectura industrial romana e que, juntamente com alguns exemplares similares identificados na Póvoa de Varzim (já destruídos), constituem um conjunto de cetárias destinadas presumivelmente à produção de sal e de peixe em salmoura.
Actualmente é o único exemplo deste tipo de exploração dos recursos marinhos, em época romana, que ainda se conserva na região Norte.
O complexo arqueológico da Praia de Angeiras é composto por seis conjuntos de tanques, com um total de 32 exemplares, de formato rectangular e trapezoidal escavados no afloramento rochoso e dispersos ao longo de cerca de 600 metros pelo areal da praia de Angeiras.
Estes tanques destinavam-se à salga de peixe ou à produção de outros tipos de conserva de peixe muito apreciado na época romana como o garum (pasta resultante da maceração de diversas espécies de peixe e moluscos com vinho, azeite e outros produtos). Foram ainda identificados tanques artificiais com pavimento composto por seixos e barro e delimitados por muretes construídos por lajes graníticas, seixos e barro. Estas estruturas destinavam-se à extracção do sal a partir da água do mar. É provável ainda que houvesse outras cetárias construídas em barro, de que têm aparecido alguns fragmentos, à semelhança do que se observa, por exemplo, em Tróia.
Estas estruturas parecem datar duma época tardia da romanização (séc. III – IV d.C.).
Este complexo salineiro relaciona-se também com uma importante estação arqueológica, da mesma época, existente a pouca distância, na zona do Funtão.
Trata-se de uma antiga villa romana. Apesar de esta estação não ter tido ainda escavações sistemáticas têm aparecido pontualmente diversos elementos que nos indicam ter existido aqui uma estação arqueológica relativamente importante, nomeadamente os restos de um mosaico e diversas cerâmicas (que foram depositadas na década de 40) no Museu de Etnologia do Porto. Outros elementos têm ocasionalmente sido recolhidos (bases de colunas,…) e encontram-se depositados no Museu Paroquial Padre Ramos.
Este local teve uma grande importância durante o período suévico-visigótico (séc. V – VII d. C.) patente nomeadamente no facto de ser uma das paróquias citadas no Parochiale suevico (Século VI) e de num documento do final do séc. IX se referir à existência de um mosteiro em Lavra “de fundação antiga”.
Neste local, entre a estrada marginal e a praia, próxima a uma ribeira, foram recolhidos diversos fragmentos de materiais arqueológicos (tegula, cerâmica comum) nomeadamente um pedaço de mosaicos tardo-romanos.