Numa casa da rua das Pereiras, em Valongo, quando a campainha toca, uma cadela salta para as pernas dos donos dando sinal que está alguém à porta.
“Lana”, o primeiro cão de assistência a surdos no país, é o mais “fiel amigo” de Armando e Glória Baltazar, um casal com essa deficiência, que lá reside.
Reagindo aos sons da campainha, do alarme de incêndio e do micro-ondas, a cadela avisa, da forma como foi instruída, qual o motivo do seu sobressalto.
“Vamos ter uma maior autonomia em todas as nossas actividades, porque a “Lana” vai dar-nos mais segurança quer em casa quer nas muitas deslocações que fazemos”, disse Armando Baltazar, 57 anos, reformado bancário.
Educada por Hugo Roby, técnico da Ânimas (Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social), a “Lana” – uma cadela de raça “Pekinois” que já vivia com o casal há dois anos e meio – reúne as características para as novas funções.
“Um cão para este tipo de assistência tem que ter um grande equilíbrio auditivo, não se assustando com os sons, mas não lhes ficando indiferente”, explicou o instrutor.
Testes de carácter, sensibilidade auditiva e grau de agressividade são fundamentais para seleccionar um cão adequado a este serviço, segundo Nuno Roby.
A “Lana” tem esse perfil e, por isso, “a adaptação está a ser fantástica, pois a cadela é muito inteligente e sensível”, frisou Glória Baltazar, 56 anos, funcionária de uma instituição bancária.
Com boletim e certificado, a cadela tem obrigatoriamente que ter um colete com a inscrição “cão de assistência”, o que lhe permite – segundo a legislação – circular em espaços públicos.
“Estamos imensamente felizes, porque quisemos ser pioneiros e servir de exemplo à comunidade surda”, afirmou Armando Baltazar, esperançado que outros sigam este exemplo e convicto da compreensão da sociedade quanto ao uso destes cães.
Cerca de um ano após o casal ter contactado a Ânimas através da Associação de Surdos do Porto – candidatando-se a ter um animal educado para este tipo de apoio -, Armando e Glória Baltazar vão receber de braços abertos a “Lana”, agora já treinada como cão de assistência.
O reencontro dar-se-á na Quinta do Côvo em Oliveira de Azeméis, no próximo domingo, em cerimónia para a qual está prevista a presença da secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz.